terça-feira, 30 de novembro de 2021

O mestre da manipulação e a banalidade do mal

 


Quando em 29 de Novembro escrevi o post acima não poderia evidentemente conhecer ainda o conteúdo de um artigo que foi publicado no dia seguinte, onde se comentam resultados de estudos de uma equipa de investigadores da Austrália e da Alemanha, e onde se fala da capacidade de a inteligência artificial se tornar mestre na manipulação de humanos e da banalidade do mal  https://www.discovermagazine.com/technology/ai-is-learning-to-manipulate-us-and-we-dont-know-exactly-how

Trata-se de uma capacidade que evidentemente só pode constituir mais um motivo de alegria para os referidos CEOs, já que uma tal mestria na manipulação, de certeza que permitirá aumentar as vendas das suas empresas. Patéticas e profundamente ingénuas são por isso as declarações que defendem que o problema se poderá resolver se os Governos dos diferentes países acordarem em elaborar um código de ética que regule o funcionamento da inteligência artificial, esquecendo que a sociedade moderna está cheia de cartas, códigos e regulamentos de ética que são violados de forma rotineira (basta olhar por exemplo para as repetidas e grosseiras violações dos codígos de ética da investigação com animais que foram detectadas inclusive nas melhores universidades do mundo) como se percebe aliás pelo próprio algoritmo do Facebook que lucra com acções que são exactamente o oposto de um algoritmo regulado por principios éticos:
"Facebook profits from the proliferation of extremism, bullying, hate speech, disinformation, conspiracy theory, and rhetorical violence" https://link.springer.com/article/10.1007/s43681-021-00068-x

As firmas que aliciam investigadores para ganharem muito dinheiro a vender a co-autoria de artigos

 


Ainda na sequência do post acima e das afirmações reproduzidas no final do mesmo, de um conhecido catedrático da Universidade de Stanford, a quem os currículos com um número invulgarmente elevado de publicações suscitam muitas dúvidas, transcrevo abaixo um texto contido num email que recebi ontem, de uma organização chamada Vision-Science, que básicamente me propôs a venda de co-autorias de algum artigo que eu faça nos próximos tempos:
 "a. You will take the main responsibility for developing the research design, writing the draft, submitting the article to a journal, etc. 
b. We will invite other researchers to join into your paper as the co-author. The collaborator will provide financial support to your paper. The amount of funds will be based on the type of authorship of co-author (second/first) and the targeted journal (such as quartile, IF)"
 
Note-se que este negócio, altamente lucrativo, da venda de co-autorias, onde as co-autorias de um único artigo podem ser vendidas por várias dezenas de milhares de euros, já tinha sido denunciado na conhecida revista Science https://www.science.org/content/blog-post/authorship-sale-papers-sale-everything-sale onde até se pode ler que vendem artigos que já foram publicados na China em lingua Chinesa e que após a respectiva tradução podem ser novamente publicados em inglês por outros autores em revistas Ocidentais, e mostra ainda que um cientista de elevado mérito, mas muito pouco escrupuloso, poder facilmente ganhar nestes esquemas ilegais, vários milhões de euros. 

O que porém lá não é dito é que é precisamente naqueles artigos com centenas ou até mesmo milhares de co-autores, que se tornaram moda (leia-se praga) nos últimos anos, que é muito mais fácil vender co-autorias porque é muito dificil senão mesmo impossivel saber o contributo individual de tantos co-autores.  Não admira por isso que um estudo sobre centenas de artigos da área da medicina (a área científica mais problemática e com mais artigos despublicados) tenha descoberto quase 18% com co-autorias ficticias. 

PS - É evidente que vender co-autorias está praticamente ao mesmo nível daquilo que faz o famoso catedrático Didier Raoult e que lhe permitiu acumular milhares de artigos https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/03/how-many-papers-can-superscientist.html 

Nominations are now open until March 2022 for the 1 million euros 3rd edition Gulbenkian Prize for Humanity

 

"The Gulbenkian Prize for Humanity aims to recognize people, groups of people and/ or organizations from all over the world whose contributions to mitigation and adaptation to climate change stand out for its novelty, innovation and impact...the Calouste Gulbenkian Foundation considers any potential recognition areas that can contribute to one or a number of the following outcomes: 

Mitigation: reduction or prevention of greenhouse gas emissions or the increased absorption of already emitted GHG. The mitigation actions require the use of new technologies, clean energy sources, industrial processing, reducing deforestation, reforestation or restoring terrestrial, marine and coastal natural ecosystems, improved methods of sustainable farming and land use, and changes in individual and collective behaviors. 

Adaptation: reducing the negative consequences of climate change by taking measures to prevent or minimize impacts that can no longer be avoided, such as rising sea levels, extreme weather events and food insecurity, with actions that include technological measures, nature-based solutions and behavioral changes"


segunda-feira, 29 de novembro de 2021

O sonho molhado dos CEOs

 


Ainda na sequência do post acima é bastante postivo constatar que um livro publicado este mês e comentado na semana passada na revista The Economist, já esteja à venda em Portugal https://www.wook.pt/livro/a-era-da-inteligencia-artificial-henry-a-kissinger/25534704

Mas como aperitivo ao mesmo afigura-se especialmente benéfico ler algumas das extensas criticas que o mesmo recebeu, como por exemplo a do professor Joseph Nye da Universidade de Harvard  https://www.project-syndicate.org/onpoint/age-of-ai-and-our-human-future-review-kissinger-schmidt-by-joseph-s-nye-2021-11

Bastante menos simpáticas são porém as criticas recebidas na Amazon https://www.amazon.com/Age-I-Our-Human-Future/dp/0316273805 e as mesmas nem sequer incidem sobre um aspecto fulcral, pois se há empresas como a própria Amazon em que os trabalhadores são forçados a urinar para garrafas imagine-se a esfuziante alegria dos CEOs em saber que no futuro terão ao seu dispor trabalhadores robotizados absurdamente inteligentes, que não necessitam de casas de banho nem perdem tempo a alimentar-se, que nunca fazem greves, que nunca se queixam nem muito menos formam sindicatos,  que nunca se cansam mesmo trabalhando 24 horas por dia, que nunca adoecem, que nunca faltam ao trabalho, e que nem sequer recebem qualquer salário ou qualquer outro subsidio, o que bem vistas as coisas é uma situação muitíssimo mais vantajosa para os CEOs do que aquela de que usufruiam os antigos donos de escravos. 

O próximo (deplorável) Presidente da Assembleia da República

 

Agora que Rui Rio (um candidato que curiosamente recusou debates com o seu adversário, o que deve ser uma nova e estranha forma de fazer politica) se tornou no candidato do PSD às próximas eleições legislativas, que serão quase de certeza ganhas pelo António Costa, já é possível saber pelo menos uma coisa, que é altamente provável que o próximo Presidente da Assembleia da República seja aquele inominável senhor cuja fronha inicia o presente post. Um pesadelo altamente perturbante que os Portugueses definitivamente não merecem. 

Seja como for, que ganhe o PS ou que ganhe o PSD é indiferente, porque quem perde é sempre Portugal, já que foram políticos daqueles dois partidos que nos últimos 47 anos andaram a sangrar este país para encher os bolsos deles e dos seus familiares e amigos. Foram os mesmos que aprovaram uma Constituição que permite a tortura de animais de companhia, os mesmos que  alteraram a lei para beneficiar os corruptos e também os condenados por crimes de pedofilia, os mesmos que aprovaram  as vergonhosas subvenções vitalícias para a classe politica, os mesmos que permitiram e continuam a permitir o tal escândalo milionário que é campeão absoluto neste blogue  e ainda os mesmos que recentemente aprovaram uma lei que impede a sua prisão  https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/11/deputados-aprovam-lei-que-impede-que_21.html

PS - Que pena que não seja possível cruzar o mapa abaixo, que mostra os distritos onde Rui Rio venceu, com um mapa de Portugal onde se pudesse saber quais os distritos onde existe mais homofobia, para assim se poder aferir se a homofobia pesou na vitória do Rui Rio. Na verdade convém ter presente que não foi há assim tantos anos que num exame de Direito da Universidade de Lisboa se comparou o casamento entre dois homossexuais ao casamento entre uma pessoa e um animal doméstico.https://sicnoticias.pt/pais/2010-04-22-exame-universitario-compara-casamento-gay-a-uniao-de-humanos-e-animais3




domingo, 28 de novembro de 2021

Decoding China´s Nobel gap: The Paradox Behind Scientific Recognition

 


The aforementioned post fails to address a particularly intriguing paradox: a nation whose students consistently achieve top rankings in PISA assessments yet demonstrate a comparatively modest track record in securing Nobel Prizes—an issue that has long been a subject of fascination and debate in China. This paradox, which has drawn significant academic and public attention, was explored in depth by Cong Cao in a compelling and thought-provoking paper published in the Minerva journal. https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s11024-014-9249-y.pdf

A retired researcher from the University of Melbourne put forth the argument that the Chinese education system is largely responsible for this phenomenon. According to their perspective, the system’s deep-rooted tendency to regard students' inquiries as a disruptive or undesirable trait ultimately hinders the development of curiosity, critical thinking, and intellectual independence—qualities that are essential for groundbreaking scientific discoveries and, by extension, Nobel Prize-worthy achievements.
"on the Chinese educational system, a question asked by a student at Chinese schools might mean one of the following two things: (1) the student is silly and did not understand what the teacher already explained (and what everybody else understood), or (2) the student is too ambitious and wants to show a teacher in a bad light–that the teacher cannot answer a new question" http://www.josephjordania.com/files/A-HUMAN-STORY-COMPLETE-2020-7-7.pdf

Sequestro de carbono permite abatimento no IRS

 


É interessante constatar que depois do artigo choque de há duas semanas atrás, vide post acima, onde se falou de valorizações de mais de 2000%, ontem a secção de economia do Expresso voltou a dedicar um artigo aos terrenos agrícolas onde novamente se insiste que os mesmos são um investimento que "gera um rendimento sólido", quase parecendo que o Expresso está a contribuir activamente para empolar uma bolha, para juntar aquela outra bolha do mercado habitacional, que recentemente motivou um aviso da Comissão Europeia a Portugal. 

Ainda se ao menos o carbono (que esta semana atingiu o valor recorde de 73 euros por tonelada no mercado de futuros) sequestrado em certas espécies agrícolas pudesse ser descontado nos impostos seria um passo fundamental na implementação da agenda radical que defende a taxação da poluição, como defendeu o Secretário-Geral da ONU há dois anos atrás e como já defendia em 1970 o Nobel da Física  Norman Ramsey https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/00963402.1970.11457790?journalCode=rbul20

PS - Nos EUA há créditos fiscais para sequestro de carbono mas infelizmente não incluem o sequestro por via de espécies vegetais. Felizmente porém que a Europa já está bastante mais avançada nessa matéria e de facto já não faltam muitos anos para que o "carbon farming" também possa gerar créditos fiscais  https://oppla.eu/new-european-commission-carbon-farming-initiative

sábado, 27 de novembro de 2021

Universidade Nova é a líder dos casos de incumprimento

 

Depois de num post anterior ter apresentado a lista das instituições com maior (e com menor) número de revisões confirmadas, apresenta-se abaixo uma análise mais fina, que mostra o resultado da diferença entre o rácio de revisões/100 docentes ETI e o rácio de publicações/100 docentes ETI, indexadas na Scopus em 2021, onde bem se percebe que a Universidade Nova é aquela com o maior desvio entre revisões e publicações, logo aquela com o maior nível de incumprimento do importante dever de revisão, incumprimento esse que no entender de alguns catedráticos merece ser penalizado com a rejeição automática de artigos dos académicos incumpridores https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/11/a-radical-solution-to-solve-crisis-in.html

Sobre este tema, tenha-se presente, que hoje mesmo é possível ler na Times Higher Education um artigo da nova Directora da IOP Publishing (que esteve muitos anos na Wiley) sobre o tema das revisões de publicações, relativamente às quais partilha as mesmas preocupações, que já há alguns anos foram expressas por um conhecido catedrático de medicina da Universidade de Stanford, que num artigo de 2014, que já recebeu várias centenas de citações, sugeriu corrigir/aperfeiçoar as actividades que devem ser valorizadas a nível académico, vide Tabela 2 do mesmo,  onde por exemplo se sugere tirar valor ao número de artigos, já que alguns/muitos desses artigos podem ser artigos irrelevantes ou até de baixa qualidade, mesmo que tenham sido publicados em revistas conhecidas. https://journals.plos.org/plosmedicine/article?id=10.1371/journal.pmed.1001747 

UNova................  -176
UPorto................. -137
ULisboa................. -74
IPCA..................... -66
IPol.Beja............... -40
IPol.Bragança........ -9
UAçores................. -1
UAberta................ +27
IPol.Viana C......... +32
IPol.Viseu............. +37
UMinho................. +37
ISCTE................... +43
UMadeira............. +46
UCoimbra............. +61
IPol.Santarém...... +64
IPol.Setubal......... +68
IPol.Porto............. +71
IPol.Coimbra....... +74
IPol.Tomar........... +81
IPol.Lisboa.......... +90
IPol.Leiria.......... +100
UÉvora...............+103
IPol.Guarda........+192
UAveiro.............. +154
IPol.C.Branco.... +178
UTAD................. +221
UBI..................... +286
UALG................. +301
IPolPortalegre.... +371

Neste contexto vale a pena reproduzir as declarações de uma professora de medicina da Universidade de Sydney, Amanda Salis (cujo número de revisões, como não podia deixar de ser, é superior ao número de publicações): 
“I have observed a change of culture at the National Health and Medical Research Council-NHMRC and at research institutes in the past 5-10 years that has encouraged the addition of peer review activity to research applications. It is no longer enough to just be doing great research; you also need to demonstrate that you are contributing to your profession more broadly. Peer review is an important means by which researchers can contribute to the growth of their profession, and demonstrating that you have done a certain amount of peer review (via a verifiable means such as Publons) proves that you are indeed making contributions to the greater good of research”.

PS - O supracitado catedrático da Universidade de Stanford foi o mesmo que em 2016 escreveu que quando olhava para alguns currículos volumosos contendo um elevado número de artigos, ficava na dúvida se eram o resultado de trabalho árduo e brilhante liderança ou antes a prova de esquemas muito pouco éticos, incluindo de excelência na escravidão de jovens investigadores:
"It is sometimes difficult to tell whether a superb CV with a lengthy publication list reflects hard work and brilliant leadership or the composite product of dexterous power game networking, gift authorship [24], and excellence in the slave trade of younger researchers"

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Desempenho de 16 instituições de ensino superior em termos de colaborações com investigadores de Universidades da China


Se se admitir, que agora que o centro de gravidade da economia mundial regressou à Ásia (de onde garantidamente não sairá tão cedo, vide artigo do Andrew Monaghan, que já tinha sido mencionado no post acessível no link acima e também o artigo publicado na revista The Economist comentado aqui, então isso significa que as universidades Portuguesas com mais colaborações com investigadores daquele país asiático, que é agora recorde-se o novo campeão mundial dos artigos altamente citados muito contribuem para minorar a sobejamente conhecida irrelevância do impacto internacional da ciência Portuguesa, https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/11/carlos-fiolhaisa-fraca-qualidade-da.html 

Decorre daqui que, como mostram as duas imagens abaixo (que revelam as percentagens de colaborações de IES nacionais relativamente ao total de publicações indexadas na base de dados Scopus) que são as universidades da Madeira, do Minho e de Coimbra as que mais se tem preocupado com essa importante questão, sendo difícil de perceber (ou talvez não), porque é que ao mesmo tempo, há muitas outras instituições de ensino superior que se preocupam muitíssimo menos ou quase nada com a mesma. Será negligência ou incompetência ?




Controversial law that transforms precarious Post-Doc contracts into permanent positions approved

 

"Berlin’s legislature took a radical step to address the precarious employment situation that plagues many early-career researchers. It passed a law requiring universities to offer new postdoc hires a pathway to a permanent position"

It’s true that the recently approved law by the City-State of Berlin (see link above) is not without its flaws and will pose challenges in terms of budget compliance. However, it’s important to approach these challenges with a fresh perspective—one that isn't stuck in outdated thinking. This requires us to consider which sectors need to be stimulated in a knowledge economy, especially in the face of a looming climate crisis. This was echoed recently by the Executive Vice President of the European Union, Frans Timmermans, who expressed concern about the future his grandson—born in 2020—might face, potentially fighting for basic resources like water and food.

As for who will fund the controversial yet promising increase in post-doc positions, we must remember that Europe loses tens of billions of euros annually due to tax evasion. This is why Germany's relentless pursuit of tax evaders, even within the confines of the law, is understandable. If just 10% of this lost amount were recouped, it could fund nearly 300,000 permanent post-doc positions across Europe. This initiative is not only crucial for scientific advancement but also for Europe's economic recovery. And this statement didn’t come from a science enthusiast, but from the President of the European Central Bank, Christine Lagarde, at the World Economic Forum.

PS -  I won’t even need to mention the obvious: society desperately needs substantial measures to combat the growing cult of ignorance, which I commented on back on November 1st.https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/11/attenborough-versus-ronaldo-or.html