quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Carlos Fiolhais___A fraca qualidade da ciência Portuguesa


O Carlos Fiolhais comenta hoje, em artigo no jornal Público, um estudo que também hoje é apresentado na Universidade de Aveiro e o qual dá conta da fraca qualidade da ciência Portuguesa, avaliada pela métrica que a Comissão Europeia associa à Excelência científica (artigos Top 1% mais citados), qualidade essa que é inferior inclusive à da Grécia, país que muito irónicamente até gasta menos do que Portugal na ciência. https://www.publico.pt/2019/11/07/ciencia/opiniao/parentes-pobres-1892695

Em boa verdade, não há quem possa alegar desconhecimento sobre essa baixa qualidade, porque ela é por demais evidente, como recentemente se deu conta aqui  também aqui ou quando se sabe que por exemplo ainda nos Idos de 2004 a FCT considerava altamente meritório ter uma (miserável) média de 5 citações/artigo (e se associava a excelência à métrica idiota de se ter orientado muitos doutorandos independentemente da qualidade dessas orientações) Infelizmente o artigo do Carlos Fiolhais esqueceu-se de duas coisas fundamentais, que abaixo se desenvolvem: 

A primeira, grave, é que que se a ciência Portuguesa possui no contexto internacional fraca qualidade então os resultados provisórios da avaliação das unidades de investigação em curso, que geraram um excepcional rodízio de Excelentes e Muito Bons (que correspondem a quase 80% dos investigadores integrados) que não tem paralelo em países com uma ciência de qualidade muito superior à nossa e que são a prova de uma avaliação não só muito pouco rigorosa, como até mesmo violadora do próprio regulamento da avaliação. Como se percebe pelo facto do mesmo regulamento ter proibido a utilização de métricas mas isso não ter impedido que nos relatórios de avaliação aparecessem abundantes referências (mais de 500 vezes) às duas piores métricas, o número de publicações o factor de impacto. 

A segunda, ainda mais grave, é que o artigo do Carlos Fiolhais não referiu uma única vez o problema da endogamia, a tal que permite promover a Associados candidatos com duas miseráveis citações e a lugares de cátedra candidatos com meia dúzia de citações. E que explica o indesculpável facto de haver investigadores desempregados, que possuem muito mais artigos em revistas científicas e especialmente muito mais citações do que muitos Associados e Catedráticos 

E isso sucede porque a regra de bronze, revelada pelo Catedrático jubilado Jorge Calado do IST, em extensa entrevista ao semanário Sol em 2016, dita que um dos critérios de selecção de professores universitários, é que os candidatos admitidos não possam ir fazer sombra aos que já lá estão, facto que também permite perceber o medo de alguns Reitores relativamente a investigadores que não fizeram o imprescindível juramento da subserviência, a mesma subserviência (e não o méritoque como escreveram alguns catedráticos é condição necessária  para se progredir na Academia Portuguesa.

Inadmissível situação, que o prémio Pessoa 2019, Miguel Bastos Araújo, carimbou de forma lapidar quando disse que:"Não há plano tecnológico, estratégias de Lisboa, e protocolos com o MIT que resistam a um burocracia cuidadosamente arquitetada para defender os interesses da mediocridade instalada" assim permitindo perceber porque é que os problemas da academia Portuguesa nunca se resumiram somente a uma questão de falta de verbas.