quarta-feira, 6 de novembro de 2019

"a great slave trader of Lisbon"


Como é que um país onde tantos fizeram fortuna no tráfico de escravos (vide email no final deste post) conhece tão pouco sobre a vida de centenas de "insignes" famílias que conseguiram alcançar o estatuto de "elite" da sociedade Portuguesa (muitos deles nomeados barões e viscondes, como o 1.º Barão de Ferreira, 1.º Visconde de Ferreira e 1.º Conde de Ferreira ou os irmãos Pinto da Fonseca que fundaram a casa bancária Fonsecas, Santos &Vianafile:///C:/Users/Admin/Downloads/mhnadministrator-portugueses-no-trfico-ilegal-de-escravizados-para-o-brasil-os-casos-de-manoel-pinto-da-fonseca-e-jos-bernardino-de-s.pdf  que veio a ser precursora do Banco Fonsecas e Burnay) por conta da exploração do sangue de escravos. 

E porque é que os alunos no ensino secundário foram e continuam a ser "poupados" a detalhes escabrosos de um período fundamental da nossa história e porque é que a academia se preocupou tanto em "fugir" ao tema e é necessário vir um professor do ensino secundário fazer trabalho nessa área que supostamente já deveria ter sido feito pelos muitos doutorandos e doutorados da área da história durante o século passado?  https://www.wook.pt/livro/escravos-e-traficantes-no-imperio-portugues-arlindo-m-caldeira/15007236

Curiosamente são os brasileiros e não os Portugueses que mostram inusitado interesse pelo tema. Abaixo um link para uma mais ou menos recente publicação com um título nada modesto: 
"Domingos Dias da Silva, the last contractor of Angola: The trajectory of a great slave trader of Lisbon"

"O ano 1765 parecia promissor para Domingos Dias da Silva. Depois de passar a década de 1750 em viagens entre Portugal, Angola e Brasil, onde acumulou grossos cabedais, finalmente ele poderia descansar um pouco das longas e perigosas travessias no Atlântico...o direito de cobrar os impostos sobre as exportações dos escravos em Luanda e em Benguela, o assim chamado “Contrato de Escravos de Angola”, o que lhe prometia ganhos chorudos...Um ano depois, esse poderoso negociante poderia gozar da fama e fortuna adquiridas no ultramar: agraciado com um hábito de Cristo, era tido por pessoa nobre por seus vizinhos, deslocando-se pelas ruas da freguesia de Santos-o-Velho em carruagem própria..."

Abaixo links para publicações sobre outros insignes Portugueses que enricaram no business do "slave trade": 

Jose Gonçalves da Silva - https://www.redalyc.org/pdf/1670/167020951012.pdf

Desidério José Marques da Rocha - http://repositorio.unb.br/handle/10482/7631


PS - Ainda sobre este assunto reproduzo abaixo o conteúdo de um email enviado em Agosto de 2019 para um elevado número de Colegas:

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De: F. Pacheco Torgal
Enviado: 18 de agosto de 2019 05:39
Assunto: Famílias Portuguesas de vergonhoso passado

“Seria do maior interesse e proveito estudar o que foi o impacto na sociedade portuguesa dos...novos ricos, com fortunas fora do comum... calculou de 300 a 400 o número de portugueses envolvidos no tráfico de escravos, no Brasil, que regressaram voluntariamente a Portugal entre Março de 1850 e Março de 1851, entrando com uma importância que estimava atingir as £400 000” 

As tais 400.000 libras mencionadas acima valeriam hoje vários milhares de milhões de euros ! Eu até percebo que antes do 25 de Abril os historiadores não se sentissem nada à vontade para estudar o fenómeno e bem assim a identidade das famílias que fizeram fortuna na nobre arte da escravatura, pois tal investigação poderia certamente ser vista como um crime contra a nação, porém passado que está meio século sobre essa data já vai sendo tempo dos Portugueses saberem quem foram os tais "300 a 400" Portugueses regressados do Brasil no final do séc 19, para que as famílias dos mesmos (cujo cujo bem estar e mordomias foi financiado com o sangue de escravos) não sejam confundidas com famílias decentes, principalmente com aquelas familias cujos antepassados também andaram pelo Brasil, mas que não enriqueceram à conta da escravatura.