segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O jornalismo de investigação do Expresso e a ciência Portuguesa


O jornalista do Expresso, Virgílio Azevedo, que naquele jornal é o responsável pela escrita de artigos sobre ciência, o mesmo que há poucos meses fez uma muito subserviente e muito delicodoce entrevista ao Ministro Manuel Heitor (o pai dos professores semi-decretinos cujo nome ficará para sempre sempre associado a isto https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/10/ensino-superiorconcursos-revelia-da-lei.html) escreveu no sábado passado uma peça sobre os prémios Nobel, que termina dizendo de forma taxativa que “a maioria dos premiados tem sempre mais de 70 anos”. 

Antes disso escreveu ele que a ciência em Portugal só cresce há 30 anos o que somado ao facto da maioria dos laureados terem sempre mais de 70 anos isso permite explicar porque razão Portugal ainda não voltou a receber um Nobel para fazer companhia ao Moniz e ao Saramago. Desde logo esquecendo muito convenientemente, que outros países, como por exemplo Singapura, não começaram antes de nós e apresentam um desempenho científico muitíssimo superior ao de Portugal, como por exemplo terem duas universidades nos 100 primeiros lugares do ranking Shanghai, onde Portugal nunca terá nenhuma ou por terem um rácio cientista/milhão de habitantes que é 400% superior ao de Portugal. neste recente ranking https://actu.epfl.ch/news/michael-gratzel-tops-new-ranking-of-scientists/  ou por terem um rácio cientista altamente citado-HCR/milhão de habitantes que é 2500% superior ao de Portugal !

Porém o mais grave problema com o raciocínio deste inacreditável jornalista do Expresso (o tal jornal que diz que faz jornalismo de investigação, excepto pelos vistos nas peças sobre ciência) é que é rigorosamente falso que a maioria dos premiados com o Nobel tenha mais de 70 anos. Na verdade somente um valor na casa dos 30% daqueles receberam o referido prémio é que efectivamente tem mais de 70 anos, havendo até quase cinco dezenas de premiados que receberam o Nobel quando ainda nem sequer tinham atingido os 40 anos de idade https://www.nobelprize.org/prizes/lists/nobel-laureates-by-age/

Melhor teria sido por isso que em vez de se ter posto a martelar números para servirem a sua desculpadora tese era que tivesse investigado quem era o país com mais prémios Nobel/capita (a Suiça) e quais eram as diferenças entre a ciência Portuguesa e aquela que se faz na Suiça. E uma diferença fundamental que explica o elevado número de prémios Nobel da Suiça é que eles utilizam a táctica da bola, que qualquer analfabeto percebe, que manda contratar os melhores e dar-lhes as melhores condições.

Portugal infelizmente não tem dinheiro para mandar cantar um cego e por isso no que respeita à ciência não tem qualquer capacidade para contratar um único dos melhores craques estrangeiros, já no que respeita aos craques nacionais, a táctica tem sido fazer-lhes a vida negra e ou escorraçá-os, como fizeram ao último Prémio Pessoa que por via disso joga numa equipa Espanhola. E como se isto tudo não fosse já suficientemente mau ainda por cima lhes dá péssimas condições  https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/09/nivel-de-burocracia-na-investigacao-e.html

Resumindo, e utilizando uma linguagem futebolística, que neste país muitos apreciam, a ciência Portuguesa faz lembrar uma equipa de futebol de um clube onde há pouco dinheiro e o pouco que há é para o Sr. Presidente do clube trocar de carro frequentemente e poder comer à grande e à Francesa em restaurantes com várias estrelas Michelin. O treinador foi contratado somente porque fez a caridade de ter casado com a filha barbuda do Sr. Presidente do mesmo clube. Craques internacionais nunca houve e se por algum acaso do destino aparecer algum craque nacional no clube logo o expulsam a pontapé, porque os mesmos 11 jogadores tem lugar cativo na equipa há muitos anos e só a abandonam quando lhes apetecer, não sendo raro serem vistos a jogar já fortemente atacados pelo reumático ou mesmo deslocando-se com a ajuda de muletas. 

A parte irónica é que o Expresso é cúmplice por omissão no estado da ciência Portuguesa, porque jamais em tempo algum denunciou o que quer que fosse daquilo que está mal na mesma e pior do que isso chegou por vezes a servir como lobby de interesses instalados.