José
Gomes Ferreira é um conhecido diplomado em comunicação social, assalariado do
Grupo Impresa, enquanto jornalista de economia (e ou Director ou SubDirector da
SIC) e parece que recentemente se tornou famoso no Facebook, por conta de um
pequeno vídeo onde lê um texto intitulado “O ambientalista simplório”.
É
absolutamente irrelevante se o texto que leu é ou não da sua autoria (ou de um
jornalista da Visão de nome Luís Ribeiro) pois ao lê-lo, com ar solene, quase
como se estivesse a ler uma revista científica, para centenas de milhares de
Portugueses, muitos deles analfabetos, semi-analfabetos, com diplomas das Novas
Oportunidades ou daquelas Universidades que foram compulsivamente encerradas
por péssimo trabalho, deu-lhe a credibilidade que a esses Portugueses falta
suficiente capacidade para confirmar ou infirmar.
O pequeno
texto em questão trata-se apenas de uma versão requentada, pouco inteligente e
muito mais resumida das teses do Sr. Lomborg, o tal que também ficou famoso mas
por desonestidade e que antes dizia para grande alegria da indústria
petrolífera e de outras que o ambiente não estava assim tão mau, mas que
recentemente já reconhece que o aquecimento global é um problema. E
nem sequer o título do pequeno texto consegue ser muito original pois é
basicamente o mesmo que aparece aquihttps://scholarlycommons.law.case.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=2668&context=caselrev
Quando
diplomados em Comunicação Social e ou jornalismo escrevem sobre ciência (ou
ensino superior) isso normalmente dá mau resultado como já se tinha visto
aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/09/presidente-da-a3es-revela-segredos-do.html
Nas
muitas pérolas que desfia no referido vídeo há duas que me merecem comentário.
Uma sobre a exploração de lítio e outra sobre transgénicos. Sobre o lítio o
autor do texto e quem o escreveu e ou leu parece que sabe tanto do assunto como
o jornalista Daniel Oliveira https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/09/litioa-receita-maravilhosa-para-agradar.html esqueceram-se
que no que respeita às reservas de lítio a nível mundial a eventual exploração
das que existem em Portugal é praticamente irrelevante para influenciar a
procura do mercado de baterias, esqueceram-se também que os impactos ambientais
de uma exploração de lítio numa salmoura, como se faz na Bolivia, são muito
diferentes de arrasar montanhas que é aquilo que se pretende fazer em Portugal,
um país que esquecem os dois diplomados em Comunicação Social tem características
únicas, pelo facto de mais
de 75% do território nacional estar englobado em apenas 1,4% do Planeta,
necessário para conservar 44% das plantas vasculares e 35% dos vertebrados a
nível mundial https://www.nature.com/articles/35002501 Significa
isso que as consequências ambientais de uma exploração de lítio (ou de qualquer
outro recurso como por exemplo petróleo) num deserto ou em Portugal são
obviamente muito diferentes. Mas isso são detalhes que não incomodam diplomados
em Comunicação Social e ou jornalismo.
A segunda
pérola do texto é quando diz que “os
transgénicos não fazem mal nenhum e podem ser uma mais-valia para o ambiente e
a Humanidade”. Sabendo-se que aquilo que os dois referidos
diplomados em Comunicação Social e ou jornalismo sabem sobre transgénicos
(organismos geneticamente modificados-OGMs), seja em termos daquilo que
aprenderam na Universidade ou em momento posterior é quase nada, fica a dúvida
relativa a saber-se a quem interessaria aquele tempo de antena da SIC para
leitura de um texto nada científico, cheio de meias verdades, principalmente na
parte em que elogia de forma tão explicita os OGMs ? Os tais que além de serem
comprovadamente e garantidamente maravilhosos para o ambiente e a
Humanidade, com mais um bocadinho de imaginação, também conseguem
emagrecer as pessoas obesas, resolvem problemas de impotência, fazem crescer o
cabelo aos carecas e curam a diabetes. Só ainda garantidamente não conseguem
curar o cancro.
Será que
nos famosos encontros de Bilderberg, onde o Sr. Balsemão costuma levar pela
mãozinha alguns políticos Portugueses, haverá alguém com interesse em promover
os transgênicos ? E por acaso até há, pois consta que o Presidente da Bayer
também costuma lá aparecer. A Bayer para quem não costume seguir as novidades,
é aquela empresa que num negócio de 66.000 milhões de dólares se juntou à
grande multinacional dos transgênicos, a Monsanto. Junção que no entanto tem
sido uma dor de cabeça por conta das condenações bilionárias que a Monsanto tem
sofrido recentemente por conta de alguns dos seus produtos provocarem o
cancro https://www.theguardian.com/business/2019/may/13/monsanto-cancer-trial-bayer-roundup-couple É
por isso caso para perguntar, será que no conglomerado Bayer-Monsanto já andam
tão desesperados que necessitam da ajuda dos amigos de Bilderberg ?
Nota
final 1 - O pequeno texto acima referido não surgiu inocentemente por acaso no
meio da polémica sobre a extracção do lítio. Ao defender sem o mínimo pudor que
os impactos ambientais são inevitáveis e que sem eles não há
"progresso" o mesmo podia ter sido encomendado por aqueles que são os
mais interessados pela abjecta prosa, as indústrias que neste país sempre
poluiram à grande e à Francesa, pagando por isso apenas umas risíveis coimas. E
isso quando as mesmas não são de forma frequente substituídas apenas por um
ralhetezinho do género católico "vai em paz meu filho e não
tornes a pecar, senão tenho de te dar outro ralhete" (leia-se
admoestação)
Nota final 2- Não é a primeira vez que me deparo com um jornalista a debitar
asneiras graves, como já sucedeu com um jornalista do Expresso, ainda por cima
logo o responsável por temas relacionados com a ciência, de quem apresentei
queixa à Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), tendo aquela
instituição reconhecido que houve por parte desse jornalista “violação do dever
de rigor informativo” https://www.docdroid.net/FtT4Y5e/deliberacao-erc-2018-154-contjor-i.pdf