Antes de tudo o mais devo declarar que não partilho da febre do lítio e a razão não é esta aqui
“The result of the comparison is less favourable for
electric cars when looking at the current impacts of their production on
ecosystems and the toxicity of the materials involved”
https://www.eea.europa.eu/highlights/eea-report-confirms-electric-cars mas sim porque substituir o consumo de um recurso não renovável como o petróleo por outro como o lítio, que muito embora esteja a associado a uma análise de ciclo de vida mais favorável, não é porém isenta de impactos ambientais e não nos retira do ciclo infernal da exploração de minas, que são uma fonte de poluição e de produção de resíduos.
Aquelas muitas centenas de milhares de milhões de pessoas que irão nascer e viver neste Planeta nos próximos séculos não merecem receber como herança um Planeta completamente esburacado, sendo que alguns desses buracos pela sua extraordinária dimensão até já são visíveis do Espaço.
Mobilidade sustentável é reduzir o número de viaturas em circulação. Mobilidade sustentável não é olhar para para as baterias de lítio como uma bala mágica, pois em 2005 vendiam-se 6 milhões de carros, número a duplicar em 2025 e a crescer de forma ainda mais gravosa em 2050, pois todos percebem que o Planeta não aguenta 9 mil milhões de carros, mesmo com baterias de lítio ou com uma tecnologia ainda com menores impactos ambientais do que o lítio. Só em pneus era uma bela festa em termos de produção de COVs. É muito mais urgente a criação de um imposto sobre o carbono para penalizar os grandes produtores como por exemplo a indústria da aviação, que emite quase mil de milhões de toneladas por ano (2000 toneladas a cada minuto) e com tendência para crescer bastante nos próximos anos.
Seja como for entendo pertinente comentar um recente video do Expresso sobre a exploração de lítio. Trata-de uma abordagem mais inteligente do que a do Daniel Oliveira analisada aqui
Seja como for entendo pertinente comentar um recente video do Expresso sobre a exploração de lítio. Trata-de uma abordagem mais inteligente do que a do Daniel Oliveira analisada aqui
e que em apenas três minutos pretende introduzir uma nova narrativa mediática,
No video agora já reconhecem que há problemas e que nos planos de prospecção do lítio se
esqueceram muito convenientemente de quantificar a quantidade de resíduos, que serão gerados pela actividade extractiva. Contudo este vídeo contem falsidades, quando diz por exemplo que
Portugal tem as sextas maiores reservas do Planeta, pois na lista dos 8 países
com maiores reservas que é apresentada no vídeo nem sequer aparece a Bolívia que é um dos
países com as maiores reservas, segundo Kavanagh et al. (2018) file:///C:/Users/Admin/Downloads/resources-07-00057.pdf 25% do total mundial, sendo 9 milhões de toneladas só na salmoura de Uyuni, e até um total de 100 milhões de toneladas, sendo que entretanto a Alemanha já tratou de reservar para si uma parte dessas reservas https://www.mining.com/germany-secures-access-worlds-second-largest-lithium-deposit/
Por outro lado se por hipótese 100 milhões correspondem a 25% das reservas mundiais (Kavanagh dixit) então isso significaria que as mesmas rondariam na totalidade 400 milhões, pelo que as tais 30 milhões de toneladas que alegadamente existem em Portugal representariam menos de 8% das reservas do Planeta. Note-se porém que a National Geographic apresenta valores diferentes nos quais Portugal não aparece sequer nos dez primeiros lugares e onde teria somente menos de 2% das reservas do Planeta, valores esses que são totalmente incompatíveis com aqueles referidos no video do Expresso
https://www.nationalgeographic.com/magazine/2019/02/lithium-is-fueling-technology-today-at-what-cost/
Por outro lado se por hipótese 100 milhões correspondem a 25% das reservas mundiais (Kavanagh dixit) então isso significaria que as mesmas rondariam na totalidade 400 milhões, pelo que as tais 30 milhões de toneladas que alegadamente existem em Portugal representariam menos de 8% das reservas do Planeta. Note-se porém que a National Geographic apresenta valores diferentes nos quais Portugal não aparece sequer nos dez primeiros lugares e onde teria somente menos de 2% das reservas do Planeta, valores esses que são totalmente incompatíveis com aqueles referidos no video do Expresso
https://www.nationalgeographic.com/magazine/2019/02/lithium-is-fueling-technology-today-at-what-cost/
A
terminar o vídeo o jornalista do Expresso diz que Portugal tem muitas reservas de lítio por
explorar mas por outro que “é preciso faze-lo como deve ser”.
Ou seja a narrativa é agora que basta fazer a exploração como “deve ser” e tudo
ficará resolvido. Infelizmente não é assim. Desde logo porque as explorações
mineiras a cêu aberto só são viáveis se não for necessário fazer a recuperação
ambiental integral e como é evidente não é possível enviar os resíduos para Marte.
Para que não subsista qualquer dúvida que se as reservas são efectivamente de 30
milhões de toneladas como diz o Expresso então a quantidade de resíduos será de milhares de milhões
de toneladas, basta olhar para a tabela 3 de uma conhecida publicação https://pdfs.semanticscholar.org/40ab/3ef02ba98eee164a47a7f085ce479c01d17d.pdf
que refere que na
exploração de minerais, como por exemplo de tungsténio, 99% do material escavado
torna-se resíduo, o que significa que aqueles sítios onde este Governo aprovar a exploração de lítio irão ficar exactamente como mostra a imagem que encabeça este post, relativa às Minas da Panasqueira e tudo isso para que depois os lucros sejam posteriormente gastos na sua maioria em Lisboa (e Porto) ou parafraseando um post do catedrático jubilado Vital Moreira em 7-09-2017, sobre as referidas cidades, que segundo ele "durante mais de 40 anos "chularam" o orçamento do Estado e os contribuintes de todo o Pais em centenas de milhões de euros"