sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Engenharia Civil__Mudar para quê ?


Recentemente comentei uma entrevista de um responsável da Universidade de Carnegie Mellon, engenheiro civil de formação e o facto da estrutura curricular do curso de Engenharia Civil em Portugal ter na sua concepção substanciais diferenças quando comparada com a estrutura do seu equivalente da UCBerkeley. https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/10/ainda-sobre-os-fachidiots-da-engenharia.html

O facto de nos últimos anos o curso de Engenharia Civil em Portugal ter voltado a reiniciar um novo ciclo descendente em termos de número de ingressos, deveria ser suficiente para espoletar alguma mudança, embora o facto de qualquer mudança ao nível académico implicar forçosamente que haja áreas que possam ganhar novo protagonismo e outras que antes dominavam (como a área das estruturas) e percam aquele que tinham, o que faz com que isso seja muito pouco provável, pois ensina o Darwinismo que só a ameaça da extinção força a mudança e já se sabe que as instituições públicas nunca se extinguem porque os bolsos que as sustentam são muito fundos.   

Neste contexto é pertinente relembrar que há 5 anos atrás quando a procura do curso de engenharia civil sofreu uma enorme queda, e o curso de engenharia civil da Universidade de Coimbra, que até aí admitia todos os anos mais de uma centena, admitiu somente 5 (cinco) alunos na primeira fase, o Director daquele curso apontou o dedo a vários supostos “culpados”, nos quais incluiu a Ordem dos Engenheiros, porém na altura o Bastonário Matias Ramos, não se ficou e devolveu-lhe a acusação, ao dizer que as universidades se limitaram de forma inerte a assistir de camarote, sem terem a coragem de nada mudarem de substancial na sua estratégia https://observador.pt/especiais/um-curso-em-vias-de-extincao/

Nessa altura o mesmo Director vaticinou que “Com a falta de engenheiros que vai haver, quem entra agora vai ter emprego fácil e bem pago daqui a uns anos”. Entretanto vários anos passaram mas os empregos fáceis e bem pagos na área da Engenharia Civil esses é que nem vê-los. Só mesmo no estrangeiro porque por cá ainda há empresas de construção a oferecer remunerações de 750-800 euros. Valor bastante abaixo da remuneração da “carreira” dos estivadores que se inicia em 1400 euros e chega a ultrapassar o vencimento de um Professor Associado com exclusividade. Mas quem sabe talvez seja daqui a 5 anos que os tais empregos fáceis e bem pagos na Engenharia Civil possam vir a ocorrer ou talvez a situação deste curso fique ainda pior. Quem cá estiver verá. Seja como for há uma pergunta que faz sentido, será possível agregar maior valor acrescentado ao curso de engenharia civil ou a actual estrutura curricular já está optimizada nesse aspecto?

Se na indústria da construção a maior percentagem do valor acrescentado está nos edifícios e não nas estruturas, então porque é que a estrutura curricular está muito longe de reflectir isso mesmo ? E porque é que ao contrário da industria automóvel, que já há muito que passou a apostar na maximização do conforto dos clientes (um certo construtor de carros Alemão possui um departamento com um orçamento generoso só para estudar o barulho que faz uma porta quando se fecha por conta da questão: How can we go about re-engineering the sound so it sounds more expensive and more high quality? a indústria de construção de edifícios (e o curso de engenharia civil) dedica pouca atenção ao conforto dos ocupantes dos edificios, que é precisamente onde o valor acrescentado ainda pode crescer de forma significativa ?