Recentemente
comentei uma entrevista de um responsável da Universidade de Carnegie Mellon,
engenheiro civil de formação e o facto da estrutura curricular do curso de
Engenharia Civil em Portugal ter na sua concepção substanciais diferenças
quando comparada com a estrutura do seu equivalente da UCBerkeley.
O
facto de nos últimos anos o curso de Engenharia Civil em Portugal ter voltado a
reiniciar um novo ciclo descendente em termos de número de ingressos, deveria
ser suficiente para espoletar alguma mudança, embora o facto de qualquer
mudança ao nível académico implicar forçosamente que haja áreas que possam
ganhar novo protagonismo e outras que percam aquele que tinham o que faz com
que isso seja muito pouco provável, pois ensina o Darwinismo que só a ameaça da
extinção força a mudança e já se sabe que as instituições públicas nunca se
extinguem porque os bolsos que as sustentam são muito fundos.
Neste
contexto é pertinente relembrar que há 5 anos atrás quando a procura do curso
de engenharia civil sofreu um tombo, e o curso de engenharia civil da
Universidade de Coimbra admitiu somente 5 alunos na primeira fase, o Director
daquele curso apontou o dedo a vários supostos “culpados” entre os quais se
contava a OE, porém na altura o Bastonário Matias Ramos não se ficou e devolveu-lhe
a acusação, ao dizer que as universidades se limitaram estaticamente a assistir
de camarote à medida que o barco ia metendo água sem nada mudarem de
substancial na sua estratégia https://observador.pt/especiais/um-curso-em-vias-de-extincao/
Nessa
altura o mesmo Director vaticinou que “Com a falta de engenheiros que vai haver, quem entra agora
vai ter emprego fácil e bem
pago daqui a uns anos”. Entretanto vários anos passaram mas
os empregos fáceis e bem pagos na área da Engenharia Civil esses é que nem
vê-los. Só mesmo no estrangeiro porque por cá ainda há empresas de construção a
oferecer remunerações de 750-800 euros. Valor bastante abaixo da remuneração da
“carreira” dos estivadores que se inicia em 1400 euros e chega a ultrapassar o
vencimento de um Professor Associado com exclusividade. Mas quem sabe talvez
seja daqui a 5 anos que os tais empregos fáceis e bem pagos na Engenharia Civil
possam vir a ocorrer ou talvez a situação deste curso fique ainda pior. Quem cá
estiver verá. Seja como for há uma pergunta que faz sentido, será possível
agregar maior valor acrescentado ao curso de engenharia civil ou a actual
estrutura curricular já está optimizada nesse aspecto?
Se
na indústria da construção a maior percentagem do valor acrescentado está nos
edifícios e não nas obras de infraestruturas, então porque é que a estrutura
curricular está muito longe de reflectir isso mesmo ? E porque é que ao
contrário da industria automóvel que já há muito que passou a apostar na
maximização do conforto dos automobilistas (um certo construtor de carros Alemão
possui um departamento com um orçamento generoso só para estudar o barulho que
faz uma porta quando se fecha por conta da questão: 'How can we go about
re-engineering the sound so it sounds more expensive and more high quality?
https://www.bloomberg.com/news/articles/2014-08-05/mercedes-doors-have-a-signature-sound-here-s-how) a indústria de construção de edifícios (e o curso de engenharia civil) dedica pouca atenção ao conforto
dos seus ocupantes que é precisamente onde o valor acrescentado ainda pode crescer de forma
significativa ?