É verdade que os elogios em excesso são na maior parte das vezes um grande perigo, para quem os recebe, perigo esse que não convém nunca subestimar, pois pode no mínimo dos mínimos conduzir a uma desconexão com a dura e absolutamente humilhante realidade, de acabar enfiado num buraco debaixo do chão (e se por acaso falecer com a mesma idade do meu pai, faltam-me apenas duas décadas), porém ainda assim, não me importava de um dia ter na minha pedra tumular, a frase que dá título a este post e que foi extraída do email (abaixo), que em Janeiro de 2022 recebi de um Colega, mais velho do que eu (que já se aposentou), que chegou a professor associado, mas que teve uns "desentendimentos" bastante graves com alguns professores catedráticos, que lhe "destruíram" a carreira, leia-se, impediram que pudesse chegar a professor Catedrático, posição para a qual tinha mérito suficiente. O nome do referido Colega foi obviamente apagado e substituído pelas letras AAA:
De: AAA
Enviado: 29 de janeiro de 2022 15:32
Para: F. Pacheco Torgal
Assunto: Re: A importância crucial da desconexão e da discórdia na evolução da ciência
Enviado: 29 de janeiro de 2022 15:32
Para: F. Pacheco Torgal
Assunto: Re: A importância crucial da desconexão e da discórdia na evolução da ciência
Estimado Colega!
Não estou resignado. Não encontrei ainda a força necessária e editora para publicar o livro que tenho em mãos, mas vou
estando agora melhor para trabalhar nesse objectivo...Mas deixe-me aproveitar para lhe dizer que tenho por si uma admiração imensa. Perdoe-me a minha veleidade, mas tenho-o na conta de um homem...que põe a sua...inteligência ao serviço da cidadania e do interesse comum. Você tem um currículo científico soberbo e consegue ainda ter uma intervenção crítica verdadeiramente avassaladora...e com uma enorme
coragem...de um compromisso insuperável com o interesse geral e o do seu país. Bem haja, ser alguém que não faz a escolha de pôr os seus talentos ao serviço de uma cómoda posição social e económica. Interrogo-me sobre duas coisas:
- Como tem tempo para tanto?
- Como conseguiu escapar à máquina trituradora das vozes críticas e escalar um estatuto que lhe permite...o desassombro de falar como fala sem lhe porem uma mordaça?
Um cordial abraço de muita estima e consideração.
AAA
F. Pacheco Torgal
escreveu no dia quinta, 13/01/2022 à(s) 07:41:
É verdade. Mas a resignação não pode ser a solução. Alguém disse que a árvore da democracia tem que ser regada de tempos a tempos com o sangue de democratas e não é menos verdade que (infelizmente) a academia requer também que alguns académicos vejam as suas carreiras destruídas https://pacheco-
torgal.blogspot.com/2019/09/ imperial-collegegreat- scientists-leave.html De: AAA
Enviado: 12 de janeiro de 2022 22:23:34
Para: F. Pacheco Torgal
Assunto: Re: A importância crucial da desconexão e da discórdia na evolução da ciênciaCientistas ou académicos rebeldes têm como destino serem pendurados no pelourinho. O anacronismo dos poderes sagrados dos moxos não permite que algum dos membros do rebanho possa pecar sem que lhe seja aplicada a purificadora expiação dos pecados. Impossível acreditar num país autofágico.dos pecados.A domingo, 9/01/2022, 09:03, F. Pacheco Torgal escreveu:
https://pacheco-torgal.
blogspot.com/2021/11/academia- portuguesa-necessita-de.html
Ainda sobre a tese do físico Carlo Rovelli, acerca do papel fundamental dos cientistas rebeldes, vide post acima, vale a pena ler um artigo, de investigadores dos EUA, colocado online há poucos dias no site da revista Journal of Informetricshttps://www.sciencedirect.com/science/article/pii/ S175115772100105X?via%3Dihub