sábado, 13 de março de 2021

A inusitada fama dos catedráticos da sopa


 

É de certa forma surpreendente (ou talvez apenas um caso de epikhairekakia, "regozijo desmesurado pelo mal alheio", Castro Caeiro dixit) que o recente post acima, sobre a sopa (fria) que levaram certos catedráticos, se tenha tornado tão rapidamente o segundo mais visto de sempre neste blog, somente abaixo de um sobre prostituição universitária. Resta somente saber se conseguirá tornar-se o post mais visualizado de sempre, o que a acontecer seria uma injustiça face ao importante teor daquele que é o post campeão absoluto desde Julho de 2020. 


Quando estar desempregado é afinal uma inequívoca medalha de honra


Um Colega de Matemática da Universidade de Coimbra, que eu não conheço,  alertou-me para uma situação bizarra que foi ontem noticiada pelo jornal Público: 
"Escrevo este texto com um enorme sentimento de desânimo, perda e revolta, como cientista exausta, a quem Portugal não deu nenhuma hipótese razoável a não ser emigrar. Conto a minha história porque reflecte muitas outras e porque traduz a forma deplorável com que Portugal trata os seus investigadores..."  https://www.publico.pt/2021/03/12/p3/noticia/balada-despedida-insustentabilidade-carreiras-cientificas-portugal-1953907

Não conheço a jovem investigadora em causa, mas acho que o país devia ter muito orgulho em que ela esteja desempregada porque só um país, capaz de produzir investigadores fenomenais com tanta abundância, pode conseguir explicar que ela só está desempregada porque todos os outros da sua área que estão empregados (postdocs, investigadores séniores e Professores-Auxiliares, Associados e Catedráticos) deverão ser todos eles sem excepção cientificamente muitíssimo melhores do que ela. 

Infelizmente a realidade é muito diferente dessa, já que uma análise ao último estudo bibliométrico realizado em Portugal para a sua área cientifica mostra que em média cada investigador ETI produz 2 publicações indexadas por ano e recebe em média a cada ano apenas 13 citações na base Scopus, valores esses que estão muitíssimo abaixo daquilo que são as métricas da referida investigadora. 

Sobra assim que o caso dela é apenas mais um daqueles que o catedrático jubilado do IST Jorge Calado classificou como constituindo a regra de bronze da academia Portuguesa, nunca se contrata alguém que possa ainda que remotamente ir fazer sombra aos que já lá estão. É também evidente que esta investigadora é mais uma daquelas a quem a FCT também deve um pedido de desculpas, pelo facto de ter preferido gastar dinheiro a avaliar misérias em vez de o utilizar a contratar investigadores https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/08/a-fundacao-para-ciencia-e-tecnologia.html 

E iguais culpas devem ser assacadas ao Ministro Heitor que ao invés de gastar dinheiro a contratar investigadores prefere antes ir entregá-lo de mão beijada a Universidades dos EUA, indirectamente assim também contribuindo para empobrecer o nosso país. https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/03/tres-singelas-perguntas-ao-ministro.html

Note-se que o tal estudo bibliométrico, que foi mencionado acima, nem sequer incluiu a produção nula ou quase nula dos professores que não estavam ligados a uma unidade de investigação, pois se isso tivesse acontecido os valores seriam muito mais baixos, para todas as áreas científicas

E note-se que nem sequer me pronuncio sobre a ultrajante parte do artigo do jornal Público onde se pode ler a pérola: "Foi-me indicado que deveria pedir a minha saída da equipa dos projectos e entregá-los a outros investigadores" 

PS - A investigadora em causa vai agora contribuir para a riqueza de outro país europeu exactamente como já tinha sucedido com muitos outros, cujo exemplo mais paradigmático é o do investigador Miguel Bastos Araújo, vencedor do prémio Pessoa em 2018 https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/11/premio-nobel-excluido-de-concurso-para.html

sexta-feira, 12 de março de 2021

A universidade que fechou os olhos ao plágio do juiz

A revista Sábado de ontem não esteve com paninhos quentes quando logo no título de um certo artigo acusa uma universidade deste país, localizada em Lisboa, de fechar os olhos ao facto da dissertação de Mestrado de um juiz do Supremo, ter sido objecto de uma elevada percentagem de cópia de trabalhos de outros autores, que não são citados, inclusive de cópia de erros cometidos por esses autores. 

A universidade essa, diz a revista Sábado que quando questionada sobre o grave assunto, prefere assobiar ao cochicho. E o próprio plagiador quando confrontado com o caso alegou em sua defesa que a universidade em causa tem "o sistema antiplágio mais moderno de Portugal", o que é uma desculpa muito original e que o autarca mencionado no post abaixo infelizmente não se lembrou de invocar. https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/02/40-plagios-de-tese-de-doutoramento.html

Muito curioso é também o facto da Professora Doutora Orientadora da dissertação, uma ex-Ministra e deputada, não se ter apercebido do extenso plágio e quando contactada pela revista Sábado também ter achado boa ideia assobiar ao cochicho, não sendo no entanto de excluir a hipótese dela ter começado a treinar para competir com o tal campeão Britânico do assobio cuja foto inicia este post.  

PS - Em abono da verdade se diga que a revista Sábado não utiliza no seu artigo a expressão "assobiar ao cochicho" mas devia porque a mesma tem um importante valor científico já que era muito utilizada pelo Catedrático Marcelo Rebelo de Sousa nas suas crónicas dominicais. 


quinta-feira, 11 de março de 2021

Sim ao aumento de impostos


Sim sou favorável a um aumento de impostos, mas não aquele aumento indecente proposto pela professora Susana Peralta da Universidade Nova, mas antes sobre aqueles mencionados pelo candidato presidencial da Coreia do Sul, Lee Jae-Myung sobre emissões de carbono (exactamente como defende o Secretário Geral das Nações Unidas) e serviços digitais, num muito recente artigo da revista The Economist como forma de financiar um rendimento básico universal,  https://www.economist.com/finance-and-economics/2021/03/02/might-the-pandemic-pave-the-way-for-a-universal-basic-income  uma opção  que se já fazia algum sentido antes da pandemia ainda mais faz agora em que o desemprego disparou e a desigualdade económica se agravou e irá continuar a agravar-se, o que como a ciência já mostrou (e também um conhecido militar também) irá contribuir para o aumento do terrorismo https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/09/2019-paper-by-german-researchersincome.html

Irónico e ainda sobre impostos é também ler na mesma edição da mesma revista que o Governo do Boris Johnson, irá meter o liberalismo na gaveta, subindo o imposto sobre os lucros das empresas de 19% para 25%,  ao contrário de Portugal onde o partido Iniciativa Liberal só descansa quando conseguir baixar os impostos das empresas quase para zero, que é quase tanto como paga a famosa Apple e que outras também sonham (não) pagar 


quarta-feira, 10 de março de 2021

Desk rejection__ "The editor-manuscript game"


“The number of desk rejections has risen dramatically in the last decade, and today desk rejection rates for top-tier journals can be as high as 50–80% of submitted…"https://link.springer.com/article/10.1007/s11192-021-03918-x#Sec5

The paper above recently published in the journal Scientometrics is a sound exercise of naivete (or hypocrisy). It almost seems that its authors ignore that Editors main concern is to increase the impact factor of their journals and since science already showed that papers from highly cited scientists and from authors affiliated with top universities get more citations then it's rather obvious that those papers are less likely to be desk rejected, thus discriminating against young researchers and researchers from less developed countries. Furthermore, it's most strange that the authors of this paper have in a very opportunistic way forgotten to cite the important work of Siler et al. (2015)  (that i mentioned in the email below in which I criticized the desk rejection policy of an Editor-in-Chief) that showed many high-quality papers are wickedly desk rejected by Editors. 


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From: F. Pacheco Torgal 
Sent: Friday, December 22, 2017 08:07:11 PM
Subject: Editor in chief, Leonard Leibovici “explains” the immediate rejection of manuscripts without peer review

Below some extracts of an Editorial authored by Leonard Leibovici, Editor-in-chief of a Medicine journal published by Elsevier. https://www.journals.elsevier.com/clinical-microbiology-and-infection/  

It contains several interesting statements trying to explain why 60% of the papers in his journals are desk rejected. What it does not contain is an explanation about why journals can only publish a limited number of articles. It would be more honest if he said that publishing more articles could damage their impact factor. The fact is that this Editor-in-Chief, like many other editors, are not infallible, so when he says that he reject papers because they are not of interest to the readers of that journal that is just a guessing game at best, and as other editors, he will also desk reject high-quality articles. A study published on PNAS shows exactly that http://www.pnas.org/content/112/2/360.abstract  

The idea that in the 21-century editors decide what readers are interested in is not just condescending but almost insulting. It's an arrogant move for an editor-in-chief to come forward revealing that his journal desk rejects 60% of the papers. I never signed or even agreed with the widely known Elsevier boycott but Journals with such high desk rejection should indeed be boycotted by the scientific community. The time will come when journals will ask (and even pay) authors to publish their work and not the other way around because it's authors and not journals (or editors) that generate the most part of the multi-billion value of the publishing industry.

terça-feira, 9 de março de 2021

Os catedráticos da Universidade de Lisboa que levaram sopa na reclamação da avaliação



A FCT divulgou na semana passada os resultados das reclamações finais sobre a avaliação das unidades de investigação. Link acima. Algumas delas levaram sopa, como a unidade dirigida pelo Catedrático Menezes Cordeiro da Universidade de Lisboa (foto acima), vide link https://www.fct.pt/apoios/unidades/avaliacoes/2017/docs/Law_5916_CIDP.pdf

Ou por exemplo a unidade de investigação dirigida pelo catedrático Vera-Cruz Pinto https://www.fct.pt/apoios/unidades/avaliacoes/2017/docs/Law_4843_THDULisboa.pdf

Outra unidade de investigação da Universidade de Lisboa (CIDPCC) que teve igual pouca sorte foi aquela dirigida por uma famosa catedrática de Direito Penal, que costumava escrever lindas pérolas jurídicas no Correio da Manhã 

Quem também não teve sorte alguma com a reclamação foi a unidade de investigação dirigida, há quase 30 anos (!!!) por um conhecido catedrático (aposentado) de Engenharia Electrotécnica, da mesma Universidade de Lisboa, de nome Carlos Salema que foi Presidente da JNICT entre 1989 e 1992, cuja avaliação inicial (que o novo painél que agora apreciou a reclamação acaba de confirmar) criticou de forma muito incisiva:  
“large number of underperforming researchers....no plan to encourage greater productivity...The leadership structure of the Institute seems to have been static…" 


segunda-feira, 8 de março de 2021

The Economist__What´s the cheapest way to cut carbon dioxide emissions ?

 https://www.economist.com/finance-and-economics/2021/02/22/what-is-the-cheapest-way-to-cut-carbon

An interesting article on The Economist, link above, shows that switching from diesel to electric vehicles delivers carbon cuts but at a very high cost while making buildings more energy-efficient provides one of the highest carbon abatement with low or even negative costs. No surprise then that the European Commission is putting so much "pressure" in building energy renovation https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/10/progress-made-by-eu-countries-towards.html



domingo, 7 de março de 2021

Universidades Portuguesas versus Universidades Alemãs__Alguns números interessantes e importantes

 

https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/01/publicacoes-cientificasem-2009-portugal.html

Ainda na sequência do post acima vale a pena olhar para a lista abaixo, sobre o aumento da produção científica, indexada na base Scopus entre 2010 e 2020 e a comparação com a evolução das três universidades Alemãs mais produtivas:

Universidade Nova.........................................259%
UBI.................................................................236%
Universidade de Évora...................................230%
Universidade do Minho...................................212%
Universidade de Coimbra...............................208%
Portugal.........................................................198%
Universidade de Aveiro..................................192%
UTAD.............................................................191%
UALG.............................................................189%
Universidade de Lisboa.................................147% 

Technical University of Munich.......................158%
Ludwig-Maximilians-Universität München......142%
Universität Heidelberg....................................141%
Alemanha.......................................................127%

Tendo em conta que a ultima avaliação de unidades de investigação em Portugal envolveu 19418 investigadores (um número menor que os 23105 docentes ETI do ensino superior público e privado, porque muitos deles não fazem qualquer tipo de investigação, embora pelo menos os das universidades públicas estejam vinculados por contratos que a isso obrigam) isso significa que no ano 2020 o rácio médio de publicações indexadas na base Scopus por investigador foi de 1.6/ano, exactamente o mesmo rácio da Alemanha.  

Note-se que os valores relativos ao número de investigadores alemães, a trabalhar no ensino superior daquele país, foram obtidos do cruzamento entre o valor total no site do Ministério Federal da Educação e Investigação e as percentagens do Eurostat que indicam os diferentes sectores onde trabalham esses investigadores "Researchers by sector". 

Muito menos agradável é saber que a Alemanha gasta em investigação (despesa pública e privada) em termos de milhões de euros por habitante 400% a mais do que Portugal e isso já utilizando aquele valor mirabolante de 3000 milhões euros, do total da despesa em investigaçção em Portugal, mencionado num artigo do Expresso de Agosto de 2020 valor relativamente ao qual, como já escrevi anteriormente, me merece muitas dúvidas, pelo facto do nosso regime fiscal permitir contabilizar como despesas de investigação despesas que tem muito pouco ou até nada de investigação. Vide página 5 relativa às despesas elegíveis no doc no link: https://www.gee.gov.pt//RePEc/WorkingPapers/GEE_PAPERS_158.pdf

PS - A imagem acima diz respeito a um auditório da Universidade de Heidelberg


Estudo__Intenção de aposentação na área do Direito é zero, em Arquitectura é 11%, em Engenharia é 31% e em Ciências é de 50%

O Presidente do Conselho Geral da Universidade do Minho, tornou público há poucos dias o Relatório Final resultante do estudo "Corpo Docente da Universidade do Minho: Caraterização Demográfica e Estratégias de Rejuvenescimento". O referido relatório pode ser consultado no site do Conselho Geral www.conselhogeral.uminho.pt, na área Documentos.

Porque será que na Escola de Ciências (e de Enfermagem) a percentagem daqueles que se querem aposentar é de 50% (vide tabela 35 abaixo) enquanto que na Escola de Direito a percentagem daqueles com a mesma intenção é zero ? E porque será que a intenção de aposentação é muito menor em homens do que em mulheres ? 

O que dizer do facto da área do Direito ter a percentagem máxima de intenções de jubilação enquanto na área da Medicina (e da Enfermagem) a percentagem é rigorosamente zero ? E será que se um estudo similar for levado a cabo noutras universidades públicas os resultados serão muito diferentes ? 

PS - Merecedor de análise é o facto de na figura na página 39 se mostrar que as universidades Alemãs possuem o segundo mais baixo índice de envelhecimento entre 26 países europeus (relação entre o número de docentes com 50 ou mais anos e os docentes com menos de 39 anos, por cada 100 docentes)



sexta-feira, 5 de março de 2021

How many papers can a super-scientist author in a single week ?


Didier Raoult currently has 3253 Scopus-indexed publications and on his Wikipedia page one can read the following: "Raoult's extremely high publication rate results from his "attaching his name to nearly every paper that comes out of his institute",[31] a practice that has been called "grossly unethical" by Steven Salzberg" https://en.wikipedia.org/wiki/Didier_Raoult

The reality is that publishers do not retract papers solely based on exceedingly high prolificacy, not even if authors have 7 (seven) papers per week, every week of a year. This reluctance may stem from the publishers' belief in the existence of scientists possessing extraordinary capabilities or superpowers.

Let's consider the scenario where a scientist is discovered to have authored 14 papers every week throughout an entire year. What actions will the publishers take? Will they retract the papers, perhaps by removing the scientist's name, or will they persist in adopting an ostrich-like approach, burying their heads in the sand? Moreover, can we unequivocally designate 14 papers per week as the threshold for scientific misconduct?

Regrettably, Raoult is not the sole perpetrator of "grossly unethical" authorship practices. It's essential to remember that in 2018, a Full Professor at Stanford University asserted in Nature that approximately 10,000 super-scientists were publishing an average of one paper every day of the week. Fortunately, they take a break on Saturday and Sunday; otherwise, the count of their publications would be even higher.

Hence, publishers opt to adopt an ostrich-like approach rather than retracting papers from a substantial group engaged in widespread false authorship. In matters of publishing misconduct, publishers often adhere to Realpolitik principles, prioritizing business interests over scientific integrity. To them, the significance of scientific integrity is conditional, safeguarded only when it does not jeopardize the colossal profits of the publishing industry. Ultimately, the core focus of the publishing business transcends integrity and even Science itself; it revolves around generating substantial profits, reaching into the billions.

The repercussions of the aforementioned Reapolitik publishing strategy are manifold. Firstly, if Full Professors and Lab Directors can exploit this approach, it sets a precedent for junior researchers to emulate, harboring dreams of accumulating numerous publications themselves one day. Secondly, if this becomes the norm in Western countries, third-world nations may be inclined to replicate these "successful" practices, cultivating their own super-scientists. Consequently, if an African super-scientist were to emerge with 10,000 or 20,000 publications at the summit of the publishing rankings, there would be little ground for criticism. Moreover, in an era where Science faces challenges from alternative facts and fake news, this "grossly unethical" authorship behavior undermines scientific authority, inadvertently aiding those who oppose Science.