quarta-feira, 4 de agosto de 2021

O Reitor da Universidade de Lisboa e as Universidades masoquistas


Já tinha sido uma excepção, que em Setembro de 2020, tivesse dado os parabéns ao Reitor da Universidade de Lisboa, por aquele ter tido a coragem para proibir as praxes na universidade que dirige e agora mais uma vez tenho que voltar a fazê-lo, desta vez por conta de numa entrevista hoje ao jornal Público, aquele ter afirmado que não compreende que haja em Portugal universidades (como a Univ do Minho, a Univ de Aveiro e outras) que aceitam ser "tão maltratadas" por não se revoltarem contra financiamentos 30% abaixo daquilo que estipula a fórmula em vigor: https://www.publico.pt/2021/08/04/sociedade/entrevista/fusao-universidade-lisboa-poupou-6-milhoes-euros-boa-parte-investida-alojamento-1972920

Já eu acho muito estranho que todas as universidades, incluindo a Universidade de Lisboa aceitem impávidas que haja licenciados na "carreira politica" a ganhar o mesmo que Catedráticos o que é basicamente o mesmo que enxovalhar a carreira académica, que há algumas décadas recebia muito mais do que a carreira da magistratura e que mesmo no final da década de 80 ainda esteve equiparada aquela em termos de vencimentos (Decreto-Lei n.º 145/87): "Art. 74.º - 1 - O vencimento base dos professores catedráticos em regime de dedicação exclusiva é igual ao vencimento base de juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça"

Curiosamente os magistrados voltaram a ser aumentados recentemente mas os professores universitários continuam com os mesmos níveis salariais de 2009, o que significa que desde essa altura só por conta da inflação perderam 12% do seu rendimento. 

Pelo que se esperaria assim que no minimo  a Academia reinvindicasse um aumento salarial conrrespontente à referida percentagem, ameaçando não com uma greve às aulas pois isso preocupa muito pouco o poder politico, mas com uma greve às candidaturas de projectos europeus, onde recorde-se a Academia conseguiu mais de mil milhões de euros https://www.publico.pt/2020/08/27/ciencia/noticia/portugal-ja-captou-mil-milhoes-euros-programa-europeu-horizonte-2020-1929373 competindo contra professores e investigadores de outros países que ganham muitíssimo mais, não admirando por isso que o Caetano Reis e Sousa, o António Damásio e o Miguel Bastos Araújo andem todos eles a contribuir para o desenvolvimento e a riqueza de outros países e infelizmente não para a de Portugal. 

Uma possibilidade alternativa (e menos dispendiosa) ao supracitado aumento salarial passaria por permitir que os professores universitários (e investigadores) passassem a ser taxados com a mesma percentagem de IRS que irá ser aplicada na região Autónoma dos Açores, o que na prática configuraria uma descida real do valor do imposto de aproximadamente 10%,  já que havendo uma descida de 30% face aos escalões do Continente, isso significa que um rendimento tributado a 35%, baixará para aprox. 25%.  

PS - Importa esclarecer que mesmo em 1987 nunca houve uma verdadeira equiparação entre os vencimentos da magistratura e da Academia porque os magistrados sempre receberam um subsidio à habitação (que actualmente ronda os 875 euros, 1750 euros para um casal de juizes) a que acresce um generoso regime de aposentação com um rácio pensão/remuneração de 100% enquanto que actualmente os Professores universitários se aposentam com um rácio de pouco mais de 70% sendo porém que no futuro essa percentagem irá baixar para menos de 60% (Vital Moreira dixit).

terça-feira, 3 de agosto de 2021

A pergunta que interessa fazer sobre a insolvência da Dielmar


Sabe-se agora que a conhecida Dielmar só não pediu a insolvência mais cedo porque os contribuintes Portugueses meteram milhões de euros naquela empresa, que o Ministro de Economia diz agora estarem definitivamente perdidos, já que a Dielmar está endividada até à ponta dos cabelos, ao Estado (8 milhões), à banca (6 milhões), aos fornecedores (2,5 milhões) e também à segurança social, no valor de quase 2 milhões de euros https://eco.sapo.pt/2021/08/02/dinheiro-publico-nao-serve-para-salvar-empresarios-estado-tem-8-milhoes-na-dielmar-que-se-calhar-nao-vai-recuperar/

É importante recordar que em Dezembro de 2020 podia ler-se na liberal The Economist que se os Administradores das empresas recebem prémios gordos quando o negócio vai de vento em popa então é lógico que quando as coisas correm menos bem lhes seja cortado o seu salário em nada menos do que 50%, neste contexto importa perguntar se a partir do momento em que os contribuintes andaram a meter milhões de euros na Dielmar se a Administração daquela empresa sofreu algum corte no vencimento ? 

Se a resposta for negativa então o Estado deveria avançar de imediato com uma penhora dos bens dos Administradores, até ao valor de 50% dos salários que aqueles receberam desde que os contribuintes começaram a meter milhões naquela empresa. É o mínimo dos mínimos. 

Se bem que os Administradores da Dielmar também podem alegar em sua defesa que o Estado meteu milhões de euros na TVI e não consta que tenham cortado em 50% o vencimento da Srª Administradora Cristina Ferreira. Pelo contrário aquela até passou a ganhar bastante mais do que ganhava na SIC. 

PS - Também não deixa de ser irónico que a mesma repugnante banca que emprestou mil milhões ao Berardo sem garantias e que emprestou mais de mil milhões ao tal maçon que só tinha uma mota de água e que agora vive luxuosamente no Brasil tenha recusado mais ajudas à Dielmar,  assim precipitando a insolvência, porque aquela não dava garantias (leia-se dava mais do que o Berardo e o maçom mas mesmo assim não eram suficientes)https://www.publico.pt/2021/08/03/economia/noticia/maiores-bancos-portugueses-recusaram-apoio-dielmar-1972904 


When will Clarivate Analytics realize that his flawed list of "star" scientists can´t be fixed ?

https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/05/another-nail-in-coffin-of-flawed.html

Still following the post above about a recent paper on the flawed Clarivate highly cited list it's worth remembering that first Clarivate came up with a new area (Cross-Field). Before there were just 21 now they have 22. Not a big change because the minimum should be the 54 areas that are used by the Shanghai ranking. Or better yet to use keywords like the Stanford scientists ranking does

Secondly, has it was recently mentioned by an Estonian researcher that his country just saw a sudden drop of almost twofold – from 17 to 9 of its highly cited scientists (HCRs) just because last year Clarivate removed the HCRs who had too many papers with more than 30 affiliations. But why 30 affiliations ? Why not 25 or even 20 ? 

Moreover that removal does not solve the problem of highly cited authors who still has a high number of papers with hundreds of co-authors from less than 30 affiliations. When will Clarivate Analytics realize that his flawed list of "star" scientists can´t be fixed ?


segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Reitor de universidade pública revela que os concursos são todos combinados

 


Ainda na sequência do post acima é interessante ler hoje na página 6 do jornal Público um professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa a confessar publicamente aquilo que faz título do presente post e que alegadamente lhe foi dito por um Reitor de uma universidade pública. 

Verdade seja dita, porém para mim essas declarações nem sequer são assim tão surpreendentes, na justa medida em há muito que isso é há muito do conhecimento da comunidade académica, como bem se percebe pelas muitas declarações de vários professores catedráticos que foram compiladas aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/06/endogamia-academica-e-viciacao-concursal.html 

A mim o que mais me surpreende é que a sempre tão eficiente e eficaz Policia Judiciária, que até foi capaz de "caçar" os dois corruptos condenados pela viciação de concursos CRESAP https://www.dnoticias.pt/2019/1/4/216894-caso-vistos-gold-condena-antonio-figueiredo-e-maria-antonia-anes/ se tenha revelado tão estranhamente incapaz de estar à altura daquilo que que fez a policia na Itália, quando prendeu vários professores universitários  por viciação de concursos de igual modo não foi até hoje capaz de descobrir uma única viciação, entre as largas centenas que ocorreram em Portugal nas últimas décadas. 

Professor Associado Antunes do Carmo é o próximo Português a ingressar no Clube Mil da Engenharia Civil a nível mundial

 


Ainda na sequência do post acima, sobre o desempenho de países europeus em termos do número de investigadores de todas as áreas científicas, que foram convidados para rever mais de mil artigos em revistas científicas indexadas na Web of Science, segue abaixo o nome dos três investigadores, que para a área da engenharia civil, a nível mundial integram o Clube Mil, ou seja que possuem mais de mil revisões confirmadas:


Na engenharia civil Portuguesa, tão cedo não haverá ninguém, a entrar no referido Clube Mil, porque o investigador nacional com mais possibilidades, isto é, com mais revisões confirmadas naquela área, a seguir aos dois Portugueses mencionados supra, é o professor Associado com Agregação, José Simão Antunes do Carmo, da Universidade de Coimbra, mas que só conseguirá atingira as 1000 revisões daqui a vários anos. 

Já a nível mundial, o investigador da área da engenharia civil, que está mais perto de se tornar o 4º membro do referido clube, é o talentoso investigador Italiano Umberto Berardi,  que não certamente por acaso, há poucos anos atrás, convidei para participar num livro do qual fui na altura editor principal https://www.elsevier.com/books/nanotechnology-in-eco-efficient-construction/pacheco-torgal/978-0-08-102641-0 e que é provável que daqui a alguns anos se torne o novo campeão mundial de revisões confirmadas na área da engenharia civil. 

domingo, 1 de agosto de 2021

Necroauthorship: The Phenomenon of Dead Scientists Continuing to Publish

 

In 2018 (see email below), I raised a question: how many years after the death of a scientist can their name continue to appear as a co-author of scientific articles, seemingly in violation of authorship rules? Interestingly, on July 29, an article was published in Scientometrics suggesting a term for this phenomenon: "necroauthorship." The author cited the case of Paul Erdös, who astonishingly continued to publish papers ten years after his death:

PS - Should journals require all co-authors to provide proof of life?

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De: F. Pacheco Torgal
Enviado: 29 de Outubro de 2018 13:08
Assunto: The immortal scientists that keep on publishing even after they´ve died

Why is that science watchdogs are not very much concerned over fake authorship? Do they really believe its normal that someone can produce a paper every 5 days has been mentioned by Stanford Full Professor John Ioannidis in the email below?

Let´s look for instance to Arnold L. Rheingold who according to Scopus has 2055 publications and that in 2018 at the age of 78 years old has manage to publish 37 journal papers. Or Howard Maibach that has 1734 Scopus publications and at the age of 89 years old publishes around 25 Scopus publications per year. Or to Harold A.Scheraga that has 1239 Scopus publications and keeps on publishing at the age of 97 ! What do they drink ? Science viagra ?

Or even better to Alan Roy Katritzky who according to Scopus has/had 1658 publications. Its truth that he died at the age of 86 years the same year that he published 27 publications referenced on Scopus being that even one year after his death almost a dozen with his name were published referenced on Scopus. Of course, we can imagine a scientist that left his "team" so many excellent ideas that for the next years after his death they keep on adding his name to the publications ! But how many years after one´s death is it possible to keep publishing? 1, 5, 50 years ?

Necroauthorship__O milagre dos cientistas que continuam a publicar 10 anos depois de terem morrido


Em 2018 questionei durante quantos anos após a morte de um cientista o nome deste poderia continuar a aparecer como co-autor de artigos, em evidente violação das regras de autoria, vide email abaixo, curiosamente no passado dia 29 de Julho foi publicado um artigo na revista Scientometrics, cujo autor sugere uma nova palavra para descrever essa milagrosa capacidade "necroauthorshiphttps://link.springer.com/article/10.1007/s11192-021-04107-6 onde é mencionado o caso de um cientista que dez anos após ter morrido ainda continuava  a publicar. E será que as revistas científicas não deveriam exigir a todos os co-autores uma prova de vida ? 
 

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De: F. Pacheco Torgal
Enviado: 29 de Outubro de 2018 13:08
Assunto: The immortal scientists that keep on publishing even after they´ve died

Why is that science watchdogs are not very much concerned over fake authorship? Do they really believe its normal that someone can produce a paper every 5 days has been mentioned by Stanford Full Professor John Ioannidis in the email below?

Let´s look for instance to Arnold L. Rheingold who according to Scopus has 2055 publications and that in 2018 at the age of 78 years old has manage to publish 37 journal papers. Or Howard Maibach that has 1734 Scopus publications and at the age of 89 years old publishes around 25 Scopus publications per year. Or to Harold A.Scheraga that has 1239 Scopus publications and keeps on publishing at the age of 97 ! What do they drink ? Science viagra ?

Or even better to Alan Roy Katritzky who according to Scopus has/had 1658 publications. Its truth that he died at the age of 86 years the same year that he published 27 publications referenced on Scopus being that even one year after his death almost a dozen with his name were published referenced on Scopus. Of course, we can imagine a scientist that left his "team" so many excellent ideas that for the next years after his death they keep on adding his name to the publications ! But how many years after one´s death is it possible to keep publishing? 1, 5, 50 years ?

 

sábado, 31 de julho de 2021

Um contributo para que os candidatos ao ensino superior não sejam enganados pelos rankings da treta

 


Na sequência do post de Agosto do ano passado onde era sugerido aos alunos que estavam indecisos sobre o curso e a instituição de ensino superior a escolher, que antes de o fazerem que ao menos consultassem o ranking Shanghai por áreas de 2020, para assim evitarem ser enganados por rankings da treta que a imprensa tanto adora https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/03/o-expresso-ao-servico-de-um-ranking-fake.html e a que infelizmente muitas instituições recorrem para esconderem a sua baixa classificação no ranking Shanghai, o único ranking a nível mundial que utiliza o número de prémios Nobel como um dos critérios de ordenação, pelo presente se divulga a tabela (no link abaixo) que compara para as 16 instituições de ensino superior nacionais, que figuram no ranking Shanghai 2021 por áreas, o desempenho de cada uma delas em 54 áreas https://www.docdroid.net/brboCEk/2021-shanghai-ranking-docx 


Departamentos de Engenharia civil das Universidades de Lisboa e de Coimbra renderam-se finalmente aos materiais ligantes activados alcalinamente

 


Ainda na sequência do post acima e tendo em conta que o livro indexado mais citado de sempre da Engenharia Civil em Portugal é um livro sobre ligantes activados alcalinamente, 
faz sentido perceber, ainda que de forma resumida, como evoluiu em números esta linha de investigação, desde que em 2004 foi defendida na Universidade do Minho a primeira tese de doutoramento sobre esses materiais, por parte de um então docente da UTAD, Teixeira Pinto, tese essa que foi Orientada pelo professor Said Jalali, que se aposentou em 2010. 

Uma pesquisa na base Scopus pelos termos "alkali-activated" ou "geopolymer" no título, resumo ou palavras-chave revela que a primeira publicação indexada com afiliação Portuguesa é de 2006 e desde essa data o total já atinge 212 publicações. Constata-se também que somente no ano de 2015 as publicações indexadas sobre esses materiais ultrapassaram a dezena em termos anuais e desde 2017 já se produzem três dezenas a cada ano, o que mostra que esta linha de investigação já ganhou raízes neste país.

A figura acima mostra a evolução da produção científica acumulada, para os departamentos de engenharia civil das diferentes universidades. A engenharia civil da universidade do Minho lidera destacada, com uma produção muito superior à dos outros departamentos de engenharia civil. Segue-se depois a UTAD, a UBI, a Universidade do Porto e por fim a Universidade de Lisboa e a Universidade de Coimbra, ambas ainda com um número incipiente de publicações. Note-se que o "segundo lugar" da Universidade de Aveiro não pertence a investigadores de engenharia civil, que curiosamente ainda não se interessaram pelo tema (o mesmo sucedendo com os investigadores de engenharia civil da UNova), mas  sim de uma unidade de investigação do Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica.

PS - Os dois primeiros lugares do pódio, dos investigadores de engenharia civil, com mais publicações sobre estes materiais, é ocupado pelos investigadores Pacheco Torgal e Nuno Cristelo. Se porém a análise incluir também a produção dos investigadores do Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica da Universidade de Aveiro, então o pódio nacional passa a ser ocupado por J. Labrincha e Pacheco Torgal. 

sexta-feira, 30 de julho de 2021

FCT - Incompetência ou ignorância ?



Ainda na sequência do post acima e tendo em conta a lista com o nome dos revisores estrangeiros convidados pela FCT, segue abaixo a lista das subáreas a que pertencem os referidos revisores, que avaliaram as candidaturas dos projectos de investigação da área científica da engenharia civil. 

Estruturas..................................6 revisores estrangeiros
Hidráulica..................................5
Geotecnia..................................4
Planeamento e Transportes......3
Materiais de Construção...........2
Construções..............................1

Porque será que tanto na Call de 2021 como na Call de 2020 houve sempre uma maioria de revisores da subárea de Estruturas e apenas um único revisor da subárea das Construções ? Aliás em 2021 essa maioria até foi reforçada, tendo passado de 5 para 6 revisores de Estruturas. E porque é que o número de revisores de Hidráulica aumentaram de 1 para 5 se o número de candidaturas de Hidráulica foi inferior ao número de candidaturas da área das Construções ? E não sendo possível admitir que o único revisor da subárea das Construções analisou as dezenas de candidaturas dessa subárea então quantas dessas foram avaliadas por revisores de Estruturas, de Hidráulica ou de Geotecnia ?

E porque será que a FCT teima em não convidar os revisores em função do numero de candidaturas recebidas em cada subárea ? Será Incompetência ou ignorância ?

PS - E será que as incompetentes (ou ignorantes) decisões da FCT só ocorrem relativamente à área da engenharia civil ou também ocorrem noutras áreas científicas ?