terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

O rigor (ou a falta dele) do Ministro Heitor



O jornal Público reproduziu ontem um artigo do Ministro Heitor com lindos números sobre a Ciência, que me abstenho de comentar por ser um exercício absolutamente inútil,
como bem se percebe aqui, mas já me custa engolir que alguém que é catedrático, ainda por cima no Técnico,  seja tão pouco rigoroso ao ponto de querer levar os Portugueses a acreditar que as empresas deste país desataram a investigar furiosamente, incluindo (pasme-se) até mesmo os bancos que nessa tese são agora instituições que estão nada menos do que possuídas pela mesma obsessão investigatória e pior ainda por pretender lavar uma mirabolante tese, segundo a qual Portugal já é mais inovador do que a Suiça. Uma autêntica e indigna mistificação que eu já tinha anteriormente demolido aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/06/dizem-que-portugal-e-mais-inovador-do.html

O facto de se tratar do mesmo Ministro que em má hora aceitou contribuir para baixar o rigor (e a ética) dos concursos universitários ajuda a perceber a "verdade" das suas palavras  https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/10/ensino-superiorconcursos-revelia-da-lei.html  É ainda o mesmo Ministro que em Março de 2019, em artigo no jornal Público, o Carlos Fiolhais apelidou de falhado,  e o mesmo que em 2019, o anterior Presidente do Sindicato do Ensino Superior, Gonçalo Velho, acusou de dizer mentiras.

Também em 2019 comentei uma entrevista delico-doce, que um jornalista pouco rigoroso do Expresso fez ao Ministro Heitor, tendo na altura lamentado que muito convenientenente não lhe tivesse sido colocada nenhuma das seguintes e incómodas perguntas:
-O que tem a dizer à acusação sobre a negligência de muitos avaliadores por não terem cumprido o regulamento de avaliação ao fazerem menção a métricas como o número de artigos, o número de citações e o tipo de revistas ?
-Quem convidou para Chair de duas áreas cientificas dois antigos diplomados pela universidade de Lisboa, acha que isso é sinónimo de imparcialidade ?
-Será que isso é uma adaptação do provérbio "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte ?
-Porque é que neste concurso as unidades com mais de 100 investigadores puderam indicar o nome dos avaliadores, acha que isso é sinónimo de imparcialidade ?
-Porque é que só 6 áreas tiveram direito a Chairs provenientes de universidades de topo ?
-Quem é que escolheu essas áreas e qual foi o critério ?
-Porque é que 12 áreas foram avaliadas em painéis com Chairs provenientes de universidades da terceira divisão, pois nem sequer conseguem constar do ranking Shanghai, o único que a Comissão Europeia associa à excelência cientifica ?
-Será que faz algum sentido que neste processo haja avaliadores de universidades Turcas?
-É este o nosso nível de ambição, que a nossa investigação esteja ao nível da que se faz na Turquia ?

PS - E depois ainda há quem se admire que com um Ministro da Ciência e Tecnologia (e do Ensino superior) com este baixo rigor e esta fraca ambição Portugal não pare de descer no conceituado ranking Shanghai e agora até a Universidade Nova de Lisboa apareça abaixo de Universidades da Turquia, do Irão, do Egipto e do Paquistão https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/08/o-incompreensivel-desempenho-cientifico.html