Eu custa-me estar a defender novamente a investigadora Raquel Varela porque discordo frontalmente da maior parte das opiniões dela, mas acho que a gravidade do assunto o justifica. Ora bem, sobre a problemática da indexação é importante recordar aqueles muitos que não o sabem o seguinte. A anterior plataforma De Góis onde os investigadores tinham que colocar os seus currículos possuia uma ligação directa à Web of Science e também à Scopus que permitia confirmar de forma automática se uma publicação estava ou não indexada naquelas bases de dados. Pois bem essa funcionalidade deixou de existir na nova plataforma Ciência Vitae, o que permite confusões como a presente que só podem ser dissipadas acedendo ás referidas plataformas, pelo que se há culpas de indexação a apontar a alguém então também aqueles que fizeram desaparecer essa funcionalidade agora as devem assumir.
Além disso parece que o jornal Público se esquece que nos termos do concurso a que a investigadora Raquel Varela se candidatou, só interessam as principais actividades e resultados, pelo que é assim secundário o número total de publicações, mas sim somente o conteúdo (e não o número) das mais importantes. Mas vamos ainda assim admitir, por hipotese, que a investigadora errou de forma grosseira na contabilização do numero de publicações indexadas, como alega a Direcção do IHC, factualidade que só pode porém ser devidamente comprovada no local próprio, isto é em sede de processo disciplinar, respeitadas as garantias de defesa da acusada (algo que está longe de tipificar uma grave infracção de integridade científica pois que essas envolvem segundo o famoso MIT, a fabricação de resultados, a falsificação da investigação, o plágio do trabalho de terceiros e a interferência dolosa no trabalho de outros investigadores), será que esse erro de contabilização pode induzir os avaliadores da sua candidatura ao engano ? Só se eles fossem extremamente incompetentes é que isso se poderia admitir, porque nenhum avaliador que se preze perde muito tempo com a longa lista de publicações que os candidatos inserem nos seus currículos, tentando sempre confirmar essa informação nas plataformas Scopus (ou Web of Science) pois é uma pesquisa que se faz em poucos segundos. E foi aliás sempre isso que fiz nas várias dezenas de projectos de investigação que nos últimos dez anos fui convidado a avaliar em quize países de quase todos continentes.
Até porque é importante recordar aos leigos que há quem tenha muitas publicações, mas que são na sua maioria irrelevantes, que poucos leram e ninguém citou, como sucede com um dos 8 professores que mencionei no post anterior, que pasme-se tem zero citações na base Scopus, pelo que é assim muito menos importante o número de publicações e muito mais as citações que elas receberam de outros investigadores. E mais ainda se essas citações tiverem sido feitas por investigadores estrangeiros que trabalhem nas melhores universidades do Planeta https://pacheco-torgal.blogspot.com/2021/05/using-stanford-mit-harvard-citations-as.html ou mesmo por vencedores de prémios Nobel como aliás facilmente se percebe aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/07/academicos-portugueses-cuja-obra.html
Assim sendo devo dizer que me preocupa muito menos o currículo da investigadora Raquel Varela, que até possui mais publicações indexadas que vários catedráticos da sua área científica e que de forma regular teve de se candidatar a uma bolsa de investigação, tendo por isso sido repetidamente avaliada por peritos estrangeiros, do que o currículo daqueles muitos anónimos professores universitários, que passando entre os pingos da chuva chegaram à segurança da tenure em concursos combinados (o tal Reitor dixit) com jurados nacionais muito pouco exigentes e até com um número de publicações indexadas bastante inferior ao da investigadora Raquel Varela e alguns até mesmo sem um único artigo em revista indexada. Porém sobre esses incompetentes, que estão efectivos em lugares para os quais não possuem currículo científico minimo, muito estranhamente, nunca o jornal Público escreveu uma única linha.
Eu fico por isso muito contente em saber que o Público irá doravante "dar caça" aos titulares de currículos académicos duvidosos e sem dúvida alguma irá começar por questionar alguns famosos catedráticos da Academia Portuguesa, para saber como é que conseguem ser donos de milhares de publicações (será que trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana ou será outra a receita do seu sucesso ?) e já agora também para que eles possam esclareçer porque é que ao mesmo tempo apresentam zero revisões na plataforma Publons-Clarivate, em evidente incumprimento de um dever científico, quando é sabido que no mínimo deveriam ter um numero de revisões igual ao número de publicações, para assim evitarem o carimbo de Cheats (vigaristas, charlatães, trapaceiros) cunhado pelos catedráticos Jeremy Fox e Owen L. Petchey