https://expresso.pt/opiniao/2020-12-31-Os-salarios-outra-vez-
No último número do semanário Expresso (que sem qualquer modéstia se intitula "o melhor jornal de circulação nacional" frase que aparece no cabeçalho do 1º caderno, apesar de por vezes não conseguir fugir à tentação das Fake News), o seu infeliz e hipócrita Director não conseguiu descobrir melhor opção para terminar 2020 (link acima), do que malhar num artigo que uma semana antes tinha saído no jornal Público, onde se tinha defendido um tecto para o rácio das remunerações dos administradores de empresas privada relativamente ao salário médio dos restantes trabalhadores das mesmas. Medida nada original e que até é defendida por muitos académicos como se referiu aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/12/can-190-million-usd-threshold-be.html
A posição do hipócrita Director do Expresso, ferozmente critica dessa possibilidade, defende que isso é uma afrontosa perseguição ao elevado mérito dos CEOs, contudo a mesma não consegue explicar porque é que na pátria do capitalismo, nos últimos 40 anos, a remuneração dos CEOs cresceu quase 1000% e a dos restantes trabalhadores só cresceu 12%. https://www.epi.org/publication/ceo-compensation-2018/ o que significa, que todos os ganhos de produtividade das empresas e a respectiva valorização bolsista, ocorrida nesse período, devem-se somente à genialidade da gestão dos CEOs, já que os restantes trabalhadores, esses pobres coitados, em nada contribuiram para o valor dessas mesmas empresas, sendo apenas pouco mais do que lixo, cujo salário convém manter congelado.
Essa posição contudo não tem nada de original e é rigorosamente a mesma do CEO Pedro Soares dos Santos, que mandou dizer que: "Não me parece que o Estado tenha legitimidade para intervir em matérias de gestão de empresas 100% privadas" (assim perdendo uma excelente oportunidade para estar caladinho). Mas se é verdade que a empresa onde Pedro Soares dos Santos exerce funções de CEO é 100% privada nada impede porém o Estado de criar um imposto especial para penalizar as empresas com uma anormalmente elevada diferença salarial entre a remuneração do CEO e a remuneração média dos trabalhadores (o tal pay gap) ou no mínimo impedir que tais empresas possam usufruir de subsídios públicos ou concorrerem a contratos públicos.
O próprio Partido Conservador do Reino Unido, não entende (como entende o CEO Pedro Soares dos Santos) que práticas de remuneração irracionais nas empresas privadas sejam apenas um assunto interno e quer obrigar as empresas a revelarem se as praticam ou não https://www.theguardian.com/politics/2017/aug/24/tories-may-compel-firms-to-disclose-gap-between-pay-of-ceos-and-workers (já o partido trabalhista daquele país pretende mesmo penalizar tais práticas como condição para a execução de contratos públicos) precisamente para inibir poucas vergonhas que contribuem para o crescimento da corrupção, porque facto é que alguns investigadores mostraram que uma elevada desigualdade contribui fortemente para o crescimento da corrupção, vide artigo publicado na revista "Economic Analysis and Policy" e onde se pode ler que existe a "strong evidence that income inequality is potentially an important determinant of corruption" que é óptima contraprova face à gananciosa posição do Sr. Pedro Soares Santos, o CEO da Jerónimo Martins, que se não fosse filho do Sr. Alexandre Soares dos Santos, jamais teria chegado a CEO daquela empresa, o que diz muito do elevadíssimo mérito de tal pessoa.
Recorde-se que a conhecida empresa Jerónimo Martins, é aquela que pratica a maior diferença salarial (pay gap) em Portugal. O CEO Pedro Soares dos Santos aufere assim 160 vezes mais do que a média dos salários da sua empresa. E é também curiosamente a mesma empresa que não contente com os seus elevados lucros combinou com outras empresas do sector da distribuição aumentar os preços para assim melhor ajudar a lixar a vida dos Portugueses. E sem estranheza também a mesma empresa que na Polónia foi multada por explorar 200 fornecedores https://econews.pt/2020/12/14/polish-regulator-fines-jeronimo-martins-161-7-million-euros/ pelo que o que o referido CEO e outros da mesma cepa desejariam era poder aumentar os preços e explorar os fornecedores à vontadinha, sem que nenhum Estado os incomodasse, como se essas ganaciosas acções fossem apenas um assunto interno das empresas.
Infelizmente para esses CEOs e também para o hipócrita Director do Expresso, João Vieira Pereira, é que não foi o Marx nem o Lenine, mas sim um juiz que serviu no Supremo Tribunal, da pátria do capitalismo, (de quem se disse que era perigoso porque era incorruptível) que escreveu que é quase impossível compatibilizar a democracia com um elevado nível de riqueza concentrado nas mãos de uns poucos: "We can have democracy in this country, or we can have great wealth concentrated in the hands of a few, but we can't have both".
Isto já para nem falar do que escreveu um investigador Alemão mencionado no post https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/11/how-elites-endanger-democracyby-tu.html post esse onde também é mencionado um interessante artigo de investigadores Holandeses, os quais concluiram que a ganância está associada uma maior probabilidade de se ser corrompido : "Greedy people were more likely to take a bribe"