sábado, 22 de maio de 2021

A propaganda do Presidente do Técnico


Hoje num destacável do semanário Nascer do Sol, cuja capa e as primeiras páginas são preenchidas pela fotografia e por uma entrevista ao Presidente do Técnico, logo seguida de um texto com o nada modesto título de "A investigação do Técnico-Das mais competitivas do país" milhares de Portugueses puderam ler que "mais de 70% das publicações científicas do Técnico...são publicadas em revistas que estão entre as 10% de maior reputação a nível internacional"

Que pena é porém que ainda haja na Academia (e logo o Presidente de uma conhecida e reputada instituição) quem confunda o local de publicação com a qualidade e a inovação daquilo que lá é publicado, pelo que faz todo o sentido perguntar, que interessa a Portugal que o Técnico tenha publicações nas revistas alegadamente de "maior reputação" se afinal muitas dessas publicações receberam muito poucas citações ? Afinal o que vale mais ? Um artigo que foi publicado nas revistas de "maior reputação" que recebeu 50 citações ou um artigo que não foi publicado nas tais revistas de "maior reputação" mas que recebeu 1000 citações ? 

Ou talvez o Presidente do Técnico não saiba (!), que como mostrou em 2019 um investigador Dinamarquês, os artigos mais importantes na área da Física foram publicados em maior número, não nas revistas com maior Impact Factor, como a Nature ou a Science mas em revistas com um Impact Factor muito inferior ao daquelas  https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/01/the-journal-that-has-low-impact-factor.html

A este respeito note-se que uma pesquisa da base Scopus mostra que os investigadores do Técnico publicaram 54 artigos em revistas da Nature (Nature, Nature Phsycs, Nature Materials, Nature Microbiology, Nature Astronomy, Nature Biomedical Engineering, Nature Communications) porém a maioria desses artigos (60%) nem sequer receberam 50 citações e até há vários desses artigos que não receberam sequer a desgraçada miséria de 10 citações. Já sobre os artigos do Técnico publicados na conhecida revista Science, 50% desses não receberam sequer 50 citações. E note-se que nos valores acima não foi sequer descontada a inflação por conta de auto-citações (rubrica onde o Técnico tem um desempenho recorde) pelo que o panorama real após esse desconto será ainda mais desolador. 

Uma forma interessante de aferir o impacto das publicações do Técnico, face a outras instituições é avaliar a percentagem de publicações com um número substancial de citações. Uma pesquisa na Scopus revela que apenas 1.2% das publicações do Técnico receberam pelo menos 150 citações, percentagem essa que é ligeiramente superior à da UALG (1.1%) mas que é inferior à percentagem das Universidades do Porto, de Aveiro, da UNova e até da Universidade do Minho. E se a comparação for feita a nível internacional, relativamente a universidades de países tão pobres como nós a coisa não melhora, pois uma comparacão com universidades da Grécia, mostra que a Universidade Técnica de Atenas e a Universidade de Tessalónica apresentam ambas uma percentagem superior à do Técnico. E até mesmo a Universidade do Chipre tem maior percentagem do que o Técnico.