domingo, 20 de dezembro de 2020

A carta aberta ao Conselho nacional de educação e as grossas asneiras de ilustres penalistas


https://www.publico.pt/2020/12/18/opiniao/opiniao/carta-aberta-conselho-nacional-educacao-recomendacao-relativa-acesso-ensino-superior-1943385

O investigador Gil Nata da Universidade do Porto, primeiro autor de uma carta aberta ao CNE, enviou-me ontem à noite um email dando conta da publicação da mesma na imprensa (link acima), na qual se critica uma proposta sobre mudanças no acesso ao ensino superior. Para quem não esteja familiarizado com o trabalho deste investigador convém recordar que ele tem estudado o gravíssimo problema da inflação de notas. Vide por exemplo a publicação na revista Higher Education"Unfairness in access to higher education: a 11 year comparison of grade inflation by private and public secondary schools in Portugal

Sobre este assunto convém também recordar que quando aqui há tempos o jornal Público contactou o Ministro Heitor para se pronunciar sobre esse problema o único comentário que obteve foi o de que “A questão das notas de ingresso no ensino superior não é relevante.”. Um entendimento que reputo de absolutamente incompreensível na justa medida em que a inflacção de notas (que os inspectores de educação dizem não ter meios para travar) tem vindo literalmente a lixar (o termo correcto não é bem este mas antes aquele cantado pelo Abrunhosa) vida a muitos jovens deste país que foram roubados do acesso ao curso a que tinham legitimamente direito e a que só não conseguiram aceder porque não frequentaram certos Colégios privados, cuja "tática pedagógica" é unicamente a da inflação notas.

É por isso, pelo menos para mim, absolutamente evidente que se há alguma mudança urgente que é preciso fazer é a da criminalização dessas mesmas "táticas pedagógicas", já que neste momento e muito estranhamente, o máximo que a lei prevê é que  seja instaurado um processo disciplinar aos diretores pedagógicos dos referidos colégios, o qual pode resultar numa inócua advertênciazinha, numa multazinha, numa suspensãozinha ou no máximo dos máximos no afastamento de funções. Já aqueles jovens que foram roubados do seu futuro a resposta que a República Portuguesa lhes dá é que se amanhem (leia-se, que se vão inscrever numa juventude partidária que é a forma menos trabalhosa de arranjar um emprego decentemente remunerado em Portugal) tudo porque neste anormal país, ilustres penalistas, por certo moralmente amputados, acham que faz sentido criminalizar quem rouba 5 euros mas não quem rouba um futuro a alguém ! 

PS - E deve-se aproveitar também para corrigir uma outra grossa asneira dos mesmos ilustres penalistas, que muito convenientemente se esqueceram de criminalizar as mentiras nos currículos académicos https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/11/mentiras-nos-curriculos-academicos-nao_10.html