terça-feira, 10 de novembro de 2020

Os resultados do Concurso de Projetos de investigação da FCT e o pouco respeito que o Governo tem pela Ciência


A FCT revelou há poucos dias os resultados dos concurso dos projectos de investigação. Link acima. Das 5847 candidaturas iniciais 2530 foram excluídas porque não cumpriam requsitos de elegibilidade. Significa isto que milhares de investigadores andaram a trabalhar para aquecer, porque não leram o regulamento e não sabiam quais os critérios de elegibilidade ?  

E tendo em conta que o custo da avaliação dos projectos é proporcional ao seu número e que este é muito elevado, na ordem dos milhões de euros, porque utiliza peritos estrangeiros, não faria sentido tentar minimizar a avalanche de projectos (cujo destino é na sua maioria a rejeição, porque não conseguem sequer uma classificação relevante no critério B, da qualidade científica da equipa) definindo requisitos mínimos para o Investigador Responsável ? Recorde-se que o dinheiro que se gasta a avaliar projectos de baixa qualidade é dinheiro que podia ser muito melhor utilizado a contratar jovens investigadores. 

Relativamente ás 3317 candidaturas consideradas elegíveis somente 312 foram selecionadas para financiamento 9.4% (ou 5.3% se considerarmos o total das 5847 candidaturas) às quais está alocado um financiamento de quase 75 milhões de euros. Este valor que à primeira vista e para um observador pouco informado parece elevado, deve no entanto ser comparado com outras despesas do Orçamento de Estado para 2021, como por exemplo, com os 500 milhões para a TAP (a somar aos 1200 milhões gastos em 2020), 850 milhões de euros para o Fundo de Resolução da Banca (leia-se financiar o Novo Banco e ainda o BPN) e a cereja no topo do bolo de 1600 milhões de euros para PPPs, despesa que no entender do Paulo de Morais não devia exceder 300 milhões de euros e isto mostra bem o pouco respeito que a Ciência merece a este Governo. https://rr.sapo.pt/2020/11/09/economia/paulo-de-morais-e-outros-17-cidadaos-questionam-governo-sobre-despesas-incompreensiveis-no-oe-2021/noticia/214215/

A respeito de PPPs convém recordar as palavras do Engenheiro Conselheiro, Luís Todo Bom, que em Abril deste ano, escreveu no caderno de economia do Expresso sobre as sanguessugas da “renda garantida tendo aquele inclusive proposto que não se aceitem “taxas de remuneração dos capitais próprios superiores a 6% e/ou aplicando taxas extraordinárias sobre os resultados que se situem acima destes valores” 

PS - E note-se que acima nem sequer mencionei os muitos milhões de euros que o Governo costuma gastar em pareceres juridicos, contratados a conhecidos escritórios de advogados