No passado mês de Janeiro o jornal Público falou com o um juiz que vivia há vários anos numa moradia com piscina, que tinha sido penhorada no âmbito do processo BPN por conta de uma divida de mais de 100 milhões de euros, tendo na altura aquele juiz garantido que tinha um contrato de arrendamento, que estava em nome do seu irmão e garantiu ainda que pagava e não só pagava como até pagava muito. Vide artigo no link acima.
Entretanto o mesmo juiz deve ter pensado melhor e diz agora (revela hoje um certo jornal diário) que afinal nunca houve contrato de arrendamento e estava lá a viver de favor. Eu nem sei o que é pior, se a mentira anterior, se um juiz que acha que é absolutamente normal viver de favor, durante vários anos, de alguém que ainda por cima deve mais de 100 milhões de euros, numa falência bancária que até agora já custou aos contribuintes deste país milhares de milhões de euros. E por que carga de água é que uma moradia que vale vários milhões de euros e que foi penhorada há vários anos, ainda não foi vendida para ajudar a abater a monstruosa divida ?
Mas se por hipótese é absolutamente normal que um juiz tenha um bom amigo que lhe permitiu viver muitos anos numa moradia sem pagar rigorosamente nada (assim permitindo que o juiz não gastasse centenas de milhares de euros a alugar uma moradia de luxo com o seu dinheiro) isso é o mesmo que se o amigo lhe oferecesse centenas de milhares de euros ou quem sabe um Porsche ou um Ferrari. E quem diz um Ferrari diz um iate de vários milhões de euros, porque bem vistas as coisas o banqueiro Salgado também recebeu um presente de 14 milhões, de um amigo construtor e portanto só quem não têm amigos verdadeiros ou só tem falsos amigos daqueles (que só dão um chouriço a quem lhes der um porco) é que somente por pura inveja pode achar que há algum mal em tais amigáveis ofertas.
É pertinente lembrar que se trata do mesmo juiz que também têm bons amigos no Benfica que lhe ofereciam viagens de avião e bilhetes para ir ver jogos no estrangeiro, restando por isso concluir que quem têm tantos e tão bons amigos só pode ser uma excelente pessoa, qualidade essa que nada, rigorosamente nada, tem que ver com a sua profissão de juiz. Aliás se por improvável hipotese ele fosse expulso da magistratura, os seus generosos amigos continuariam a ser generosos com ele por pura amizade. Mais ainda, se ele nunca tivesse sido juiz mas antes pedreiro, estivador ou mineiro mesmo assim continuaria a ser alvo da generosidade dos seus amigos. O facto de o Benfica não pagar viagens ao estrangeiro aos mineiros benfiquistas deve-se somente à circunstância muito particular do Presidente daquele clube não ter nenhum amigo do peito que seja mineiro de profissão.
PS - Igualmente digno de registo foi o facto do referido juiz ter garantido ao jornalista do Público, que o inquérito aberto pelo Conselho da Magistratura sobre o presente caso iria ser com toda a certeza arquivado. Quem poderia imaginar que alguém a quem a Divina Providência abençoou com tantos e generosos amigos ainda por cima lhe condeceu a extraordinária capacidade de adivinhar o futuro.