Sobre a muito fresca e bizarra opinião do Pedro Abrunhosa no artigo acima, de onde retirei o título deste post, aproveito para reproduzir na íntegra abaixo o conteúdo de um email que em Abril de 2017 enviei a uma jornalista do Expresso, de nome Cláudia Figueiredo, comentando o seu estranho artigo sobre o baixo vencimento dos deputados. E claro neste contexto convém também não esquecer isto https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/10/lucrar-atraves-do-trafico-de-influencias.html
Cara
Jornalista Claúdia Figueiredo,
foi com alguma surpresa que li a sua peça jornalística que logo a abrir escreve
que “é preciso quebrar o silencio instalado à volta dos salários dos
políticos portugueses como forma de voltar a credibilizar a classe politica” e
também que a receita passa por “oferecer uma remuneração digna”.
Está a falar a sério ? Ou este é o artigo que o Expresso planeou para comemorar
o dia 1 de Abril ? Porém e tendo em conta que a referida peça se baseia no
recente livro do Ex-deputado José Magalhães tenho de concluir que não se trata
de uma graçola. Antes fosse. Desde logo é mau sinal que uma tal atenção tenha
sido dedicada a um livro escrito por alguém que enquanto Secretário de Estado
da Justiça achou por bem gastar dinheiros públicos a comprar uns peculiares
adereços para decorar o seu gabinete. Não sou eu que o digo mas sim a
Associação Sindical dos Juízes Portugueses que não consta que tenha o hábito de
caluniar seja quem for por dá cá aquela palha http://www.asjp.pt/2012/01/14/estado-paga-fervor-maconico/
Também não ajuda nada a causa do Ex-deputado José Magalhães que aquele busque
em sua defesa das inacreditáveis palavras do actual Presidente da Assembleia da
República que em Outubro passado falou ao Expresso de se criar um regime “que
dê alguma garantia a quem está no Parlamento que não fica depois entregue à
bicharada” e que mostram bem quais são as verdadeiras preocupações da
nossa classe politica. Nem muito menos que esta peça jornalística surja tão
inoportunamente logo no mês em que se soube que alguns deputados se
andaram a portar de forma tão brilhante
Relativamente à sua peça, que de forma triste e acriticamente engoliu de uma
assentada o anzol, a chumbada e até mesmo a bóia, das verdades do referido
ex-político achei particularmente interessante a tal figura que compara o
salário anual dos parlamentares de 13 países e onde Portugal aparece na
antepenúltima posição. Um qualquer leitor ao ver uma tal figura ficará por
certo convencido que os nossos desgraçados deputados quase que vivem
de esmolas podendo inclusive sucumbir à tentação de organizar um peditório para
ajudar a nossa mal tratada classe parlamentar. Porém faz muito pouco sentido
comparar o vencimento de deputados de países ricos com deputados de
países pobres não lhe parece ?
Assim se refizer a referida figura fazendo uma ponderação simples do vencimento
pelo PIB/capita de cada país poderá constatar que o vencimento dos deputados portugueses
é ligeiramente inferior ao dos deputados da Alemanha e dos Estados
Unidos e é até superior ao dos deputados da Inglaterra e da França. E
isto sem sequer levarmos em conta as tais regalias escondidas de que se fala na
referida peça, como por exemplo o tal caso de alguém que gastou 40.000 euros em
despesas em deslocações e em apenas seis meses.
Pode também constatar no novo gráfico que no referido grupo dos 13 países
os deputados qua mais recebem são os do Brasil e aqueles que menos
recebem são os da Suiça. Ou seja a fazer fé na tese da sua peça podemos afirmar
que o Brasil, com tantos deputados acusados e presos por corrupção é
o país que consegue ter os deputados com maior credibilidade ? e que
a Suiça, aquele país onde ninguém quer ser deputado, pois que recebem até menos
que o valor do PIB/capita, se resigna a ter deputados sem
credibilidade ?
É pena que em vez desta peça não tivesse feito antes outra que compasse os
vencimentos dos Professores e Investigadores Portugueses com os de outros
países nomeadamente com os da China que têm um programa de atracção de talento
que paga mais de 1 milhão de euros/ano a Professores catedráticos de topo.
Aliás como os Professores e Investigadores Portugueses tem de competir com os
da Suiça, da Suécia ou da Alemanha nos concursos internacionais faz pouco
sentido que recebam muito menos do que aqueles. Pois também os prémios de jogo
da nossa selecção de futebol não são muito menores que os das selecções da
Suiça, da Suécia ou da Alemanha. E é por isso que há muitos Professores e
Investigadores Portugueses de elevado talento que tem vindo a ganhar lugares de
professores Catedráticos em universidades de grande prestígio, mas parece que
essa emigração não constitui um problema prioritário o que prioritário é o
baixo vencimento dos nossos deputados a quem a nação tanto deve.