domingo, 26 de janeiro de 2020

Novo episódio na farsa da exploração do lítio


O semanário Sol relatou no passado sábado num artigo faccioso sob o título "Lítio estudo dá luz verde" que a empresa Lusorecursos mencionada aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/12/litioa-propaganda-continua-mas-agora.html a mesma que pretende explorar lítio em Montalegre entregou o estudo de impacte ambiental-EIA à Agência Portuguesa do Ambiente. 

O semanário Sol só se esqueceu que os EIA não dão luz verde a ninguém e irónico seria que uma empresa entregasse um EIA onde aparecesse escrito que o seu projecto industrial violava questões ambientais a um tal nível que jamais poderia receber positivo das entidades competentes ! Isso era quase o mesmo que alguém que vai ser enforcado comprar a própria corda. 

Até parece que os jornalistas do semanário Sol não leram que o EIA do aeroporto do Montijo também aponta para a viabilidade daquele (como não podia deixar de ser) porém já houve ambientalistas que arrasaram a credibilidade do referido estudo 
https://www.rtp.pt/noticias/pais/aeroporto-do-montijo-ambientalistas-chumbam-estudo-de-impacto-ambiental_n1173666 exactamente o que vai suceder a este famoso estudo (cheio de idílicas propostas destinadas a fazer a primeira mina sustentável do Planeta) assim que chegar à fase de consulta pública. 

O semanário Sol esqueceu-se também (muito convenientemente) de referir o volume dos resíduos que serão gerados ao longo dos 20 anos de exploração mineira, e em vez disso preferiu abrilhantar a peça com uma linda imagem "prospectiva" do que será a futura exploração de lítio, cheia de pinheiros e verde relva e onde só faltam florzinhas, passarinhos, crianças a brincar e um sol a brilhar, o que denota uma estranha concepção de jornalismo, quase parecendo que se tratava de uma Newsletter da empresa Lusorecursos como publicidade paga e não como era suposto de uma peça de jornalismo.  

Note-se que um estudo de impacto ambiental por definição só deveria referir questões ambientais pelo que o estudo acima referido que vai ao absurdo de mencionar que esta exploração tem um impacto sócio-económico positivo não pode deixar de suscitar justificadas desconfianças sobre o espírito com que foi elaborado. Desde logo é curioso ler a parte em que dizem que vão cortar uma montanha numa altura equivalente à altura de um prédio de 20 andares como se isso fosse coisa absolutamente corriqueira ou com impactos mínimos ou facilmente minimizáveis. 

Engraçada e facciosa é também a parte onde se refere que os rejeitados da referida mina voltarão a ser utilizados no enchimento de galerias. Uma piada ! Como se isso sequer fosse praticável, porque se o fosse então esse seria o procedimento utilizado em todas as minas, pelo menos naquelas localizadas em países desenvolvidos, o que não é o caso como o comprovam muitas minas na Europa onde os rejeitados deram origem a volumosas escombreiras como as daquela muito conhecida mina no distrito de Castelo Branco  

A parte mais bizarra de muitos estudos de impacto ambiental é a facilidade com que são incapazes de prever o que é que realmente vau acontecer na prática e se limitam a fazer umas quantas idílicas previsões e igualmente idílicas medidas correctivas.   Não me admiraria nada que quando fizeram o estudo do impacto ambiental dos olivais do Alentejo se tivessem esquecido de mencionar que a secagem do bagaço da azeitona iria libertar gases e partículas prejudiciais à saúde e responsáveis por doenças respiratórias e cardíacas graves, numa quantidade superior em 3500% ao valor limite estabelecido pela lei, emissões essas que como relata o último número da revista Sábado não só escorrem pelas casas e plantações dos residentes, como impedem a abertura de janelas e como também obrigam os referidos residentes de uma aldeia próxima a usar mascaras sempre que saem à rua.