domingo, 19 de janeiro de 2020

Miguel Sousa Tavares__Um caso de esclerose galopante ?


O Miguel (Andersen de) Sousa Tavares comentou ontem a elaboração do Orçamento do Estado (Português) tendo aproveitado o exercício para malhar forte e feio na importância do Estado e indo ao ponto de escrever que é a classe média que "faz avançar a Humanidade", que é a classe média que produz:
"os cientistas, os economistas, os arquitectos, os músicos, os escritores, os filósofos, os empresários visionários, os matemáticos, que acrescentam valor, inovação, riqueza às nações...Mas sucede que toda esta gente só existe e só funciona num quadro de absoluta liberdade individual e económica-sem depender do Estado e, se necessário contra o Estado"

Uma tal prosa só pode explicar-se pela hipótese do Miguel (Andersen de) Sousa Tavares ter andado a ler  este artigo https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/12/artigo-cientificoas-pessoas-pobres-sao.html ou os mesmos livros que anda a ler o Sr. Bolsonaro (se é que ele sabe efectivamente ler), os tais que dizem que os pobres não produzem nem nunca produziram nada, nem valor, nem inovação, nem riqueza, nem muito menos filhos que valessem alguma coisa. 

Filho de pobre como todos sabem é por regra coisa inútil como inúteis foram seus pais. E de facto todos aqueles senhores e senhoras que estão no Panteão Nacional eram todos filhos de famílias da classe média (ou média alta), a começar logo pela alfacinha Amália Rodrigues, que era filha de uma médica e de um advogado ou o algarvio João de Deus, também no Panteão Nacional, que era filho de uma engenheira e de um famoso economista (que dava pelo estranho apelido de Pedro Malgovernado). Pelo que o mais prudente mesmo é esterilizá-los a todos antes de se reproduzirem como coelhos (Bolsonaro dixit). Permissão de reprodução, só para as famílias de classe média ou superior, que são as únicas que fazem avançar a Humanidade. 

Convém lembrar que este Miguel (Andersen de) Sousa Tavares que agora coloca cientistas (e logo em primeiro lugar) no tal grupo que acrescenta "valor, inovação, riqueza" é o mesmo que em Janeiro de 2017 dizia que eram um grupo de indolentes, basicamente uns parasitas do Orçamento de Estado  sendo improvável que de lá para cá ele se tenha arrependido ou que tenha lido a frase "Public research is critical to the economy and to society" aqui https://www.nature.com/articles/nbt.4049#t1 ou muito menos que tenha lido o British Academy Prize Essay Justifying Public Funding for Science,  é muito mais provável que ele se tenha esquecido do que escreveu há dois anos atrás e ou que padece de esclerose galopante. E a prova disso mesmo é que curiosamente também se esqueceu de referir que é a classe média que também produz os Ricardos Salgados deste mundo

Esta adoração pelo Estado mínimo não é porém original pois também o ex-Presidente da Iniciativa Liberal por ela professava incondicional (e muito ingénua) admiração, vide post abaixo, https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/10/o-anjinho-presidente-da-iniciativa.html 
onde note-se nem seque é feita qualquer alusão ao elevado nível de psicopatia existente no sector empresarial “..the base rate for clinical levels of psychopathy is three times higher among corporate boards than in the overall population (Boddy et al., 2010)
Boddy, C. R., Ladyshewsky, R. K., & Galvin, P. (2010). The influence of corporate psychopaths on corporate social responsibility and organizational commitment to employees. Journal of Business Ethics, 97(1), 1-19.
ou sobre os anormalmente elevados níveis de assédio moral (e sexual) que também lá se verificam. 

Porém e logo por grande azar o mesmo caderno principal do Expresso que contém a crónica do Miguel (Andersen de) Sousa Tavares, contém também uma extensa peça sobre os CTT, que desde que foram privatizados pioraram de forma extraordinária o seu nível de serviço. Informa o Expresso que as queixas contra os CTT saltaram de 478 em 2015 para 6293 em 2019, um crescimento de 1300%. Como se vê, fora do Estado tudo corre (como repetia o Professor Pangloss, de Voltaire) pelo melhor dos mundos possíveis. 

P.S - Depois da péssima opção, da semana passada, relativa à entrevista ao Sr. Bannon e comentada aqui https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/01/o-que-levou-o-expresso-dar-palco-ao.html  saúdo o Expresso ontem publicado pela oportunidade da peça sobre a bandalheira em que se tornaram os CTT, que compensa as esclerosadas asneiras do Miguel (Andersen de) Sousa Tavares