Ainda sobre o meu post de 21 de Setembro acima, que versou a necessidade de criar mais valor na área da Engenharia Civil, que possa servir para que mais engenheiros civis deixem de trabalhar para empresas de construção onde recebem salários indecentes e em alternativa apostem no desenvolvimento de empresas de prestação de serviços de elevado valor acrescentado, entendo pertinente reproduzir abaixo uma carta publicada hoje no jornal Público na secção "Cartas ao Director" sob o título "Engenharia em Portugal":
"O bastonário da Ordem dos Engenheiros é eleito para acautelar e promover os interesses dos engenheiros, e a dignidade remuneratória deverá estar à cabeça desses interesses. Na Engenharia Civil esta dignidade atingiu níveis tão baixos que a classe deveria sentir vergonha. O principal motivo para esta situação está no processo de adjudicação de projectos e obras, quase sempre determinadas pelos preços mais baixos, e que acabam frequentemente em litigância, má execução, anulação de contratos, insegurança, tudo à revelia das exigências europeias relativas ao bom uso do dinheiro público. O Estado, que insiste em fazê-lo, apesar de conhecer as consequências na qualidade do produto que recebe, tem especial responsabilidade por marcar um padrão de mediocridade na forma de gerir os nossos impostos. Em Portugal, nos últimos dez anos, mais de 80% das importantes obras públicas foram adjudicadas ao concorrente que apresentou o preço mais baixo, sendo que a quase totalidade dessas adjudicações envolviam empresas de países europeus, onde as empresas portuguesas não têm qualquer hipótese, sequer, de participar em concursos. É sabido que estas empresas acabam depois por ir ao mercado, pagando salários vergonhosos aos engenheiros..."
António Campos e Matos, Porto