Era uma vez uma jovem de um país estrangeiro que há 8 anos veio a Portugal obter um doutoramento numa universidade Pública. Ao fim de dois anos de andar a pagar propinas e despesas de estadia candidatou-se a uma bolsa, num concurso de um dos programas doutorais financiados pela FCT, cujo regulamento permitia a candidatura de estudantes estrangeiros. O concurso em causa previa a atribuição de 9 bolsas e ela acabou graduada em 10º lugar, sem direito a bolsa, excepto se houvesse alguma desistência, que foi o que veio a acontecer.
O júri porém, manhoso, decidiu não lhe atribuir a bolsa, nem fundamentar a sua decisão, nem sequer se dignando a responder a uma reclamação sobre a mesma. A candidata apresentou então, a meu conselho, uma queixa ao Provedor de Justiça, tendo aquela instituição sido inequívoca, no sentido de que tinha sido cometida uma injustiça e recomendando ao Presidente do júri (catedrático do IST) que diligenciasse no sentido de corrigir a injustiça, mediante a atribuição da bolsa à candidata. O júri contudo, de forma bastante prepotente (leia-se velhaca), decidiu manter a inexplicável e injusta decisão de não atribuir a bolsa de doutoramento, dessa forma mandando às malvas a recomendação do Provedor de Justiça, um orgão que recorde-se aprecia queixas e emite recomendações para "prevenir e reparar injustiças" cfr. Artº 23 da CRP .e que até tem assento no Conselho de Estado.
Quanto à jovem estrangeira essa não teve outro remédio senão engolir a custo a prepotência Portuguesa e acabar o doutoramento sem bolsa. Por esta altura anda na terra do Sr. Trump e sem surpresa até já possui uma produção científica que é superior à produção de todos aqueles 8 candidatos que receberam a bolsa que a ela lhe foi injustamente negada, produção científica essa, que é inclusive superior, à produção científica de um dos catedráticos que fazia parte do referido júri.
Catedrático esse que curiosamente (embora sem qualquer espanto) também fez parte do júri do concurso para um lugar de Professor Associado, que foi ganho por um portentoso candidato, que catorze anos depois de se ter doutorado tinha duas publicações Scopus e uma única miserável citação https://pacheco-torgal.blogspot.com/2020/10/post-sobre-concurso-anulado-na-univ-de.html E depois ainda há quem se admire que Portugal gasta mais dinheiro do que a Grécia no ensino superior e não consegue ter tantas citações como os Gregos, como foi demonstrado no estudo sobre os últimos 30 anos da Ciência em Portugal https://pacheco-torgal.blogspot.com/2019/11/os-ultimos-30-anos-da-ciencia.html
PS - Especialmente elucidativo no que respeita à comparação da produção científica das publicações da jovem doutorada e do referido catedrático é o valor do índice-h platina (índice que procede à normalização da duração da carreira e portanto ao contrário do índice-h, não descrimina os jovens investigadores) que é 26 para a primeira e 6 para o segundo, deixando assim bem patente qual a diferença entre as publicações de um e de outro.