domingo, 4 de outubro de 2020

O genial jornalista do Expresso que avalia as decisões do comité que atribui o prémio Nobel da Física


Ontem um jornalista do Expresso, ainda por cima logo um que até é Redator Principal (que durante 14 anos tratou de assuntos de economia) escreveu que achava estranho que em 2010 o prémio Nobel da Física tenha sido atribuído à descoberta do grafeno, porque escreveu ele (que pelos vistos sabe a potes de prémios Nobel em especial da área da Física) que o prémio é atribuído a "descobertas que tiveram impacto na sociedade" o que não sucedia com o referido grafeno que segundo o inteligente e muito perspicaz jornalista "não tinha na altura nenhum impacto na sociedade". 

Restando por isso concluir que ou o comité do Nobel se enganou ou foi o poderosíssimo lobby do grafeno que forçou a atribuição do prémio (sob eventual ameaça de ataque bombista) ou muitíssimo mais provável é que o jornalista em causa nunca tenha perdido tempo a ler os estatutos da Fundação Nobel no respeitante ao prémio em causa, que visa distinguir "the person who shall have made the most important discovery or invention within the field of physics" não se lendo em parte alguma que isso seja sinónimo de "impacto na sociedade" como o demonstram aliás inúmeros prémios Nobel de Física anteriores que foram atribuídos a descobertas e invenções sem grande impacto na sociedade. 

E quem decide qual é a mais importante descoberta ou invenção, não são cidadãos como o referido jornalista, através de um concurso de popularidade, como por exemplo aquele que escolheu o Salazar como o maior Português de sempre, mas cientistas da mesma área e esse facto permite perceber porque motivo a Clarivate Analytics conseguiu através da análise do padrão de citações (parâmetro que é sinónimo de um reconhecimento de pares vide por exemplo o índice K que possui maior correlação com o Nobel) acertar em tantas previsões, 50 (cinquenta) previsões, de cientistas que vieram de facto a receber um prémio Nobel.

Trata-se contudo convém lembrar, do mesmo jornalista que há poucos anos tentou fazer brilhar uma alegada (e apagada) estrela da ciência, o mesmo que esteve na origem da fake news comentada aqui, e mais recentemente também aqui e também o mesmo de quem a Entidade Reguladora para a Comunicação Social disse coisas suficientes para envergonhar qualquer jornalista e qualquer jornal (vide deliberação ERC/2018/154 (CONT JOR-I)) de tal forma que o mesmo deveria logo na altura ter sido automaticamente transferido para a secção de economia e impedido de voltar a escrever o que quer que fosse sobre ciência. 

Infelizmente não foi essa a opção da direcção do Expresso (onde se senta agora um individuo que escreveu que "Não é de professores doutorados ou investigadores que o Estado tem falta") que sem dúvida deve achar que o referido jornalista anda a fazer um excelente trabalho, que agora até chega ao extremo absurdo de se achar competente para julgar as escolhas dos cientistas que decidem quem merece o prémio Nobel da Física. 

Depois disto ninguém se espantará se no futuro o Expresso decidir inovar de forma ainda mais radical colocando um dos jornalistas que usualmente escrevem sobre desporto a avaliar as decisões do comité que atribui o prémio Nobel da Química e um dos jornalistas que usualmente escrevem sobre cultura a avaliar as decisões do comité que atribui o prémio Nobel da Medicina. Já para avaliar a decisão do comité que atribui o prémio Nobel da Literatura, um qualquer estagiário, que saiba ler e escrever, deverá servir.