O jornal
i de ontem trazia uma matéria choque, link acima, que não vou comentar porque os factos lá relatados dispensam comentários e também porque há alguns anos atrás recebi um email pouco simpático do actual Reitor da
Universidade de Coimbra, quando ele era apenas Vice-Reitor responsável pela investigação (e mostrou assim conviver mal com criticas à sua gestão pouco competente, a mesma que foi depois estranhamente recompensada com a sua eleição para Reitor) por conta de comentários, vertidos em dois emails, que eu produzi sobre a classificação daquela Universidade no ranking de Xangai e que o Carlos Fiolhais colocou no
blog De Rerun Natura em Agosto de 2018, comentários esses que agora abaixo novamente reproduzo, Aliás acho igualmente pertinente revisitar o artigo no jornal Público onde o mesmo Carlos Fiolhais avaliou o desempenho do então Vice-Reitor como não tendo sido capaz sequer de atingir os minimos. E esse facto somado a todos os outros acima referidos justificam de certa forma o parágrafo final do meu post de 22 de Novembro de 2019.
"Um extenso artigo hoje nas páginas
6 e 7 do jornal Público tenta explicar porque razão a Univ. de Coimbra
desceu no ranking Xangai. Tenha-se presente que há um mês atrás, escrevi no
email abaixo, que o pagamento que aquela mesma Universidade andou a fazer a uma
firma de consultoria para subir no ranking não impediria que a mesma descesse
ao invés de subir.
No artigo o Reitor daquela Universidade mostra-se confiante que para o próximo
ano o resultado será melhor e tenta explicar que a chatice que agora teve lugar
se fica a dever ao tamanho da instituição, pois como os seus competidores tem
produtividade similar são favorecidos aqueles de maior dimensão, explicação
bizarra pois as universidades de Aveiro e do Minho, que continuam no Top 500
têm menor dimensão que a de Coimbra. Diz também que os resultados se devem à
entrada de novas universidades da China mas não diz porque é que esse facto não
levou à saída das universidades de Aveiro e do Minho mas somente à saída da
Universidade de Coimbra !
Curiosamente o artigo não menciona (talvez a jornalista se tenha esquecido
dele) o segundo critério utilizado na ordenação, o número de "Highly Cited
Researchers". A universidade melhor classificada neste ranking têm
109 HCR. https://clarivate.com/blog/news/clarivate-analytics-names-worlds-impactful-scientific-researchers-release-2017-highly-cited-researchers-list/
Curiosamente a
Universidade de Coimbra não possui nenhum investigador dessa categoria ao
contrário do que sucede com as universidades de Aveiro e do Minho e essa é
pergunta que interessa fazer. Porque será que a Universidade de Coimbra não têm nenhum HCR ? Pergunta
essa porém que o jornal Público preferiu não fazer.
É verdade que não é barato contratar um cientista que tenha um prémio
Nobel no currículo (tema que é abordado pelo Reitor da Univ. de Lisboa no mesmo
artigo) porém será por certo mais barato contratar um ou dois Highly Cited
Researchers ? Talvez fizesse muito mais sentido essa alocação de verba do que
andar a pagar a firmas de consultoria, despesa que não impediu a descida no
presente ranking da Universidade de Coimbra.
De: F.
Pacheco Torgal
Enviado: 2 de Julho de 2018 8:34
Assunto: O vice-reitor explica
Enviado: 2 de Julho de 2018 8:34
Assunto: O vice-reitor explica
No
Sábado um certo vice-reitor de universidade que prefiro não identificar,
pois que em face da noticia em causa, me envergonho de me lá ter licenciado no
inicio da década de 90, resolveu dizer numa certa imprensa paga maravilhas do
ranking QS (aquele ranking comentado noutros emails meus) e muito pior do
que isso explicar que aquela universidade é uma das contribuidoras para os
lucros da empresa que elabora tal ranking para assim poder ter direito
a uma série de estrelas. Explica o vice-reitor que o pessoal da firma
que elabora o ranking, gente que sabe de rankings a potes e como bem subir
neles, deu a receita após ter recebido o pagamento (ou depois já que o artigo
não é claro neste detalhe) depois a Universidade aplicou a receita, voltam os
tais especialistas para nova auditoria e toma lá 5 estrelas, confirmadoras
de que se atingiu o firmamento da qualidade universitária. Note-se que estas 5 estrelas não garantem
que noutros rankings a referida universidade não possa descer em vez de subir,
mas isso é pormenor irrelevante pois o ranking da QS é que conta até porque têm
estrelas e os outros não.
Desde logo é caricata a assunção que uma universidade como aquela onde há
especialistas de craveira internacional nas mais diversas áreas não sabe qual a
receita para se subir num ranking. Sabendo-se também que há rankings
de elevada qualidade que fazem o serviço de borla é espantoso que haja quem não
se importe de pagar para estar em ranking de baixa qualidade. Talvez seja um
caso de dinheiro a mais ou inteligência a menos. Ou o inverso. Se
trabalhasse naquela universidade sentir-me-ia enxovalhado pelo acto
e quero crer que aqueles que naquela instituição têm desempenho de
elevadíssima qualidade não merecem que a sua reputação seja enxovalhada
porque associada às estrelas sem brilho daquele ranking.
Acho importante ressalvar que nos comentários acima parti sempre do principio
que a verba que a referida universidade pagou à firma que elabora o tal ranking
foi verba que não saiu do Orçamento de Estado. Tivesse eu conhecimento ou a
profunda convicção que um milésimo de um cêntimo do dinheiro dos meus impostos
tivesse sido utilizado no referido pagamento e teria que ampliar ainda mais o
meu direito de opinião para ir de encontro ao vertido naquele Acórdão do
Supremo Tribunal de Justiça 3017/11.6TBSTR.E1.S1 onde se escreve sobre a
crítica contundente, sarcástica, mordaz, com uma carga exageradamente
depreciativa ou caricatural e com o uso de expressões agressivas ou
virulentas pois este país não merece ter responsáveis universitários que acham
que os dinheiros públicos são para ser gastos com tanta falta de inteligência.
Se é assim que se gasta o dinheiro nas universidades imagine-se o que se fará
noutras instituições públicas onde não existe sequer um milésimo da massa
cinzenta !
Para terminar e a custo zero aproveito para dar conselho ao referido
vice-reitor para subir nos rankings. Trate de reduzir a endogamia pois é a
diversidade que contribui para o impacto como se explica abaixo
Wagner, C. S., & Jonkers, K. (2017). Open
countries have strong science. Nature News, 550(7674), 32.
Clauset, A., Larremore, D. B., & Sinatra, R. (2017). Data-driven
predictions in the science of science. Science, 355(6324), 477-480.
E no entretanto enquanto não conseguir reduzir a endogamia peça aos
professores e investigadores da sua universidade que tentem colaborar com
professores e investigadores das melhores universidades do mundo. Como alguns
já o fazem é só perguntar-lhes a receita pois estou certo que eles não lhe
cobrarão nada por ela."