https://www.publico.pt/2020/09/21/local/noticia/praxar-praxado-universidade-lisboa-vale-processo-disciplinar-1932306
A propósito da recente noticia no link acima e depois de em 2018 ter "malhado" (leia-se ter criticado, no âmbito do meu legitimo direito de opinião, embora com alguma contundência) o Sr. Reitor da Universidade de Lisboa (vide o conteúdo do email que abaixo se reproduz, sob o título "A nova "pupila" do Sr. Reitor da Universidade de Lisboa" que em 20 de Maio de 2018), sou, pelo menos desta vez, a dar parabéns ao Reitor da Universidade de Lisboa, pela inusitada coragem em proibir de forma bastante veemente o sadismo praxista, sadismo esse que faz prova de uma flagrante e absolutamente inequivoca, ausência de requisitos minimos para ingresso numa universidade digna desse nome e sadismo esse que importa recordar, de quando em vez resulta em contas de milhares de euros para serem pagas pelos contribuintes, já para nem falar das mortes, que algumas universidades, de forma vergonhosa, se tentam escapar a pagar.
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De: F. Pacheco Torgal
Enviado: domingo, 20/05/2018 à(s) 21:21
Assunto: A nova "pupila" do Sr. Reitor da Universidade de Lisboa
Recebi hoje um
email de um colega da ULisboa dando-me conta de um recente discurso do
senhor Reitor daquela universidade, onde aquele aproveitou para
revelar a sua nova “pupila”, quando disse que pela
sua parte tudo fará para acabar com a carreira de investigação, pois
segundo o próprio em Harvard não há investigadores mas somente
professores, discurso acessível aqui https://www.youtube.com/watch?v=c5jGL6mqwnc
Antes
porém de comentar a oportunidade e a substância daquela que é a nova e
inusitada “pupila” do Sr. Reitor é pertinente que comente antes disso
outro pupilo do Sr. Reitor, comentário esse que serve como comprovativo
introdutório sobre a qualidade do referido discurso.
Ao minuto
31 do discurso disse o Sr. Reitor que em 2016 a Universidade
de Lisboa estava à frente de todas as Universidades Italianas e
Espanholas no ranking Shangai. Este facto porém não corresponde minimamente à verdade e
mostra como o Sr. Reitor não se importa de usar factos alternativos
em sua defesa, porque no referido ano e no referido ranking a Univ.
de Lisboa estava no grupo 150-200, o mesmo grupo onde estavam a Univ.
Sapienza e a Univ.Barcelona e nesse grupo a ULisboa até aparece abaixo daquelas
e não é por mero acaso.
Já sobre
as pérolas que envolvem a universidade de Harvard é bom saber que o
Sr. Reitor têm elevadas ambições para a Universidade
de Lisboa, infelizmente parecem ambições na mesma linha daquele
conhecido sapo que tentou imitar um boi e que como todos sabemos não acabou
bem.
Desde
logo é muito estranho que o Sr. Reitor compare a ULisboa
a Harvard quando não consegue sequer que a sua universidade figure
sequer no ranking das 100 mais inovadoras da Europa https://www.reuters.com/article/us-emea-reuters-ranking-innovative-unive/reuters-top-100-europes-most-innovative-universities-2018-idUSKBN1HW0B4
Curiosamente
também nunca preocupou o Sr. Reitor que a percentagem de endogamia da
universidade que "dirige" esteja muito longe da Universidade
de Harvard. http://www.dgeec.mec.pt/np4/EstatDocentes/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=138&fileName=EndogamiaAcademica.pdf
Se a
endogamia por cá até choca o Sr.Ministro que publicamente a considerou
inadmissível em Harvard era
garantido que dava direito ao despedimento daqueles que nada fizeram para a
impedir. Se coerência houvesse o Sr. Reitor tinha-se
demitido no mesmo dia em que o Ministro Manuel Heitor se pronunciou sobre a
endogamia daquelas unidades orgânicas que fizeram o pleno ou que são conhecidas
como o clube do bolinha, aqui só entra quem é da casa. Ou seja relativamente
a Harvard o Sr. Reitor só olha para aquilo que lhe dá
jeito. O que não dá jeito
é como se não existisse.
É verdade
que de Harvard não conheço tanto como o Sr. Reitor (ou
talvez conheça...) mas conheço pelo menos alguma coisa de algumas universidades
da Suécia, onde há professores sexagenários a concorrer e ganhar bolsas da ERC
e a escrever artigos em nome individual, sem explorarem o trabalho de bolseiros (ou como escreveu um catedrático de Stanford, que se especializarem na escravatura de jovens investigadores) que é coisa que por cá há pouco e já nem falo daquele milhar de professores que
a DGEEC diz que não estão integrados em nenhuma unidade de investigação, mas que o
Sr. Reitor diz que nunca ouviu falar, pois como ele diz no seu
discurso não conhece nenhum professor que não faça investigação, isto muito
embora haja no documento no link abaixo várias centenas (355 ETI) nessa
condição e que pertencem curiosamente à Universidade de Lisboa
A verdade
que o Sr. Reitor têm dificuldade em reconhecer é que a academia
Portuguesa tem elevada diversidade. Há por lá raros professores de elevada
craveira, como o conhecido Sobrinho Simões que fazem o pleno em termos de
pedagogia e de liderança no campo da investigação, há também por lá muitos
professores com elevadas capacidades pedagógicas, mas sem capacidade para fazer
investigação, há ainda excelentes professores com elevada capacidade de investigação,
mas pouco ou nenhum interesse pela docência, de quem os alunos não sentem falta
e muito menos saudade e
até há na academia Portuguesa quem não tenha qualquer capacidade pedagógica nem
nunca sequer tenha dado mostras de ter especial inclinação para a investigação, que
ninguém percebe como é que chegaram à nomeação definitiva e porém lá se vão
aguentando dando as suas aulinhas e conseguindo até por vezes que o nome deles
apareça em artigos onde fizeram nada.
É claro que se poderia em tese admitir, que deveríamos levar em boa conta os
conselhos do Sr. Reitor da Universidade de Lisboa, porque ele
lidera uma universidade infalíve,l onde os mais altos padrões são prática
quotidiana e constituem um brilhante farol para a restante academia. Poder
podia mas é sempre preferível olharmos menos para discursos de circunstância de
quem têm verbo fácil e é mais avisado concentramos a nossa atenção nos factos.
E alguns dos factos que interessam são por exemplo os abaixo descritos:
Como este
catedrático da ULisboa que disse que os professores são contratados para não irem fazer sombra aos que já lá
estão https://sol.sapo.pt/artigo/520326/jorge-calado-chumbei-um-curso-inteiro-com-zero-valores-
Ou como
por exemplo esta brilhante pérola da ULisboa que dita que "a
justificação das propostas de abertura de concursos e/ou dos critérios/pesos
adotados na elaboração dos editais deve ser acompanhada dos curricula vitae de
potenciais candidatos" e que mostra bem como se ajustam as regras
concursais naquela universidade
Ou os
Professores da U.Lisboa que participaram neste vergonhoso
concurso http://dererummundi.blogspot.pt/2016/05/recrutamento-de-docentes-de-matematica.html
Ainda
sobre Harvard, é bom reconhecer que por lá também fazem asneira grossa,
como se percebe por exemplo, pelo facto daquela universidade já ter mais
artigos retractados por falsificação de resultados, do que os artigos
retractados pelas mesmas razões, originários de todas as universidades da
Suécia. E já nem sequer falo na pouca vergonha que mostra
que Harvard anda a descurar a selecção de alunos por mérito e ao
mesmo tempo se anda a tornar apenas uma coutada de filhos de ricos e poderosos:
Ou será
que o Reitor da ULisboa também quer alterar o sistema de ingresso no
ensino superior para o tornar mais parecido ao de Harvard, assim
permitindo aos alunos sem média suficiente, mas filhos
de famílias abastadas, entrarem directamente na Universidade
de Lisboa ?
Ou
seja nem tudo o que vem de Harvard merece ser seguido e muito
menos copiado, como aconselha a prosa do Sr. Reitor e também o facto
de lá (e noutras universidades da Ivy League) terem uma minoria de professores
e um exército de escravos que de vez em quando se suicidam https://www.timeshighereducation.com/features/poisonous-science-dark-side-lab não
é algo que se recomende mas que no limite até se pode entender numa
universidade privada de um país fortemente liberal e onde se cultiva de forma patológica a
narrativa do "be rich or die trying".
Uma nota
ainda sobre a carreira de investigação, que tanto irrita o Sr. Reitor. Faz
todo o sentido que exista nas universidades uma carreira de investigação, que
corresponda no mínimo a 10-15% do corpo docente. Estes investigadores estariam
isentos de actividade lectivas, excepto nos períodos em que não tivessem ganho
projectos de investigação, sendo que nessa altura teriam as mesmas
responsabilidades lectivas dos restantes docentes. Aliás no discurso acima, o
próprio Reitor da ULisboa admitiu que há por lá docentes que por
serem responsáveis por projectos importantes ficaram isentos de actividade
lectiva, são assim falsos docentes mas antes investigadores a 100%.
Porém a verdade “negra” que justifica que uma tal carreira irrite tanto
Sr. Reitor e também outros, é porque muitos desses são curiosamente
aqueles que como escreveu aquele conhecido Catedrático de Medicina da Univ.
Stanford, se
especializaram na exploração do trabalho escravo de jovens investigadores,
interessa-lhes por isso acabar o mais cedo possível com uma tal carreira, pois
a mesma reduz inadmissivelmente a quantidade de trabalho escravo e que é por
essa razão um espinho cravado na garganta do status quo. Para muitos
desses o único
investigador bom e aceitável é o investigador que previamente fez prova de
subserviência aprovado em concursos de fachada e cuja missão se resume
a colocar em paper as geniais ideias de um professor, para que o mesmo possa
assim ir enchendo o currículo e passear-se por conferências e congressos dando
conta do que fazem os seus subordinados investigadores às ordens da sua
iluminada visão. A verdade porém que não é escamoteável é que aquilo que convém
a esses professores não é aquilo que convém a Portugal, país que já aboliu
qualquer forma de escravatura há muito tempo, real ou mental, embora ainda haja
quem lhe sinta a falta.
Se outra
razão não houvesse a carreira de investigação justifica-se nas universidades
públicas Portuguesas como forma de conseguir que a academia possa dispor de investigadores
não marcados mentalmente pelo "ferro"
de nenhum "negreiro",
leia-se investigadores independentes e não subservientes aos jogos de
interesses lá instalados, interesses esses que podem servir muitos dos que
controlam as universidades mas que não servem o superior interesse de Portugal.
Nota final: Um investigador (ou docente que também os há) portador
da "marca do negreiro" é
aquele selecionado em concurso viciado, momento a partir do qual contrai
automaticamente uma elevada divida de que um dia poderá ou não vir a
libertar-se. A melhor forma de identificar um destes investigadores (ou
docentes) é através da constatação da sua capacidade ilimitada de continuar a
obedecer cegamente ao "negreiro" por
maiores que sejam as humilhações sofridas às mãos daquele. Estes investigadores
(ou docentes) raramente expressam opiniões que sejam contrárias ao status quo e
muito menos dizem algo que possa desagradar ao seu "negreiro".