sexta-feira, 13 de março de 2020

Vacina contra o coronavírus, tem um custo altíssimo



No fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis...Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha... Ele soltará apenas um suspiro...Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?
Eça de Queirós in “O Mandarim”

Corria o ano de 1880 quando foi publicado o livro “O Mandarim”, da autoria de Eça de Queirós. Nele o escritor fala do dilema de um indivíduo que poderá ficar imensamente rico se aceitar viver com o facto de que essa opção implicará a morte de alguém; alguém que ele não conhece e que nunca viu residindo nos confins da China. Enunciado pela primeira vez em 1802 pelo escritor François-René de Chateaubriand o “paradoxo do mandarim” como ficou conhecido, coloca em evidência as implicações morais relacionadas com as consequências que as nossas acções podem trazer a terceiros.

Reproduzo acima o inicio de um livro https://www.amazon.com/Sustentabilidade-Materiais-Construcao-Fernando-Pacheco/dp/9728600224  do qual fui primeiro autor há uma década atrás, o qual é pertinente no presente contexto do coronavírus. Imaginemos que para que alguém se conseguisse curar do coronavírus só necessitava de carregar num botão, cuja consequência secundária seria porém a morte de alguém na China. Quantos Portugueses e Portuguesas infectados carregariam nesse botão ?

Uma coisa é evidente, não precisamos de puxar muito pela cabeça para saber o que faria o Sr. Trump, o mesmo que decidiu que 8 mil milhões de dólares em vendas de armamento à Árabia Saudita, valiam bem a morte e desmembramento do jornalista Jamal Khashoggi pelo que se a sua própria cura do coronavírus dependesse da morte de um Chinês desconhecido, coitado do mesmo e contudo nem sequer se pode apontar o dedo ao Sr. Trump porque se há gente em países supostamente civilizados que andam à pancada por papel higiénico não é difícil imaginar o que fariam ao tal Chinês desconhecido. 

P.S - O presente post não pretende contribuir para aumentar as vendas do livro supra referido, não só porque já está científicamente desactualizado, mas principalmente porque o mesmo é de acesso aberto  a qualquer pessoa através do repositorium da Universidade do Minho