“No
fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis...Dele nada
conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu
herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha... Ele
soltará apenas um suspiro...Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro
do que pode sonhar a ambição de um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal,
tocarás tu a campainha?”
Eça de Queirós in “O Mandarim”
Corria o ano de 1880 quando
foi publicado o livro “O Mandarim”, da autoria de Eça de Queirós. Nele o
escritor fala do dilema de um indivíduo que poderá ficar imensamente rico se
aceitar viver com o facto de que essa opção implicará a morte de alguém; alguém
que ele não conhece e que nunca viu residindo nos confins da China. Enunciado
pela primeira vez em 1802 pelo escritor François-René de Chateaubriand o
“paradoxo do mandarim” como ficou conhecido, coloca em evidência as implicações
morais relacionadas com as consequências que as nossas acções podem trazer a
terceiros.
Reproduzo acima o inicio de um livro https://www.amazon.com/Sustentabilidade-Materiais-Construcao-Fernando-Pacheco/dp/9728600224 do qual fui primeiro autor há uma década atrás, o qual é pertinente no presente contexto do coronavírus. Imaginemos que para que alguém se conseguisse curar do coronavírus só necessitava de carregar num botão, cuja consequência secundária seria porém a morte de alguém na China. Quantos Portugueses e Portuguesas infectados carregariam nesse botão ?
Uma coisa é evidente, não precisamos de puxar muito pela cabeça para saber o que faria o Sr. Trump, o mesmo que decidiu que 8 mil milhões de dólares em vendas de armamento à Árabia Saudita, valiam bem a morte e desmembramento do jornalista Jamal Khashoggi pelo que se a sua própria cura do coronavírus dependesse da morte de um Chinês desconhecido, coitado do mesmo e contudo nem sequer se pode apontar o dedo ao Sr. Trump porque se há gente em países supostamente civilizados que andam à pancada por papel higiénico não é difícil imaginar o que fariam ao tal Chinês desconhecido.
P.S - O presente post não pretende contribuir para aumentar as vendas do livro supra referido, não só porque já está científicamente desactualizado, mas principalmente porque o mesmo é de acesso aberto a qualquer pessoa através do repositorium da Universidade do Minho